TERRA MINHA
Verdes alturas. Lugar no mundo aberto com chaves de pedras por uns
índios, que uns dizem ser Caiapós, outros falam que não. Digamos bugres,
e vamos seguir. O verde não deve lhes ter sido desagradável, um verde
qualquer, pois senão partiriam pr’outras bandas. / Depois o rei
português concedeu (como fosse seu) a tal Francisco essa terra, para a
colonização. Hahaha! Os bugres já lá há tanto,
mas vamos adiante. O tal Chico trouxe quem bem entendeu. E então
começou a derrubada de mata para as plantações e criação de gado. Ele
via na terra oportunidade de dinheiro, mas certamente também se agradou
dela, senão seria outro o seu paradeiro. / O povo foi se ajuntando. Um
lugar tão bonito; uma cachoeira bem próxima. Fizeram uma igreja. Puseram
nome no lugar. Parece que se chamou Capela, Tapiri, Capivari,
Consolação. Enfim, povoado, freguesia, vila, distrito, emancipação. E ir
pelas próprias pernas. Agora sim, pensaram. / A terra é pequena, mas a
beleza não. Chão do bom, produtivo. Terra alta, um verde puro, perto do
azul do céu. Na praça os velhos (as narinas o tão bom ar) falam dos seus
tempos. Os moços nem sempre confessam, mas acham que os velhos não
sabem tanto quanto pensam, e às vezes não veem as rugas como marcas do
tempo, mas sim como distinção de feiura. / A honestidade não tem preço.
Todos sabem e concordam. Mas boa sombra para ficar sossegado quem não
quer? Ser honesto não é ser bobo. Como é bom ser emancipado; não precisa
dar satisfação. Faz praça, reforma praça, derruba a praça, faz nova
praça. Que graça. / A terra não é grande, mas a beleza é. Várias
famílias, uma família só. Uma boa sombra quem não quer? Quem se foi, nem
sempre foi porque quis. Quer voltar; um dia. Quem ficou acha que quem
se foi não pertence mais; nem deve opinar. Faz fusquinha. / Não podem
exagerar, poxa, senão até a Pedra Muda vai reclamar; como um cavalo que
suporta carga demais para si, a minha terra está gemendo, gemendo, para
quem sabe (e quer) ouvir.
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