domingo, 28 de junho de 2015

FÔRMA

Numa Igreja em BH
Domingo passado
Comecei a reparar
Um tanto intrigado

Vi a Tia Elza
O Zé do Arvelino
O Titi, o Grego
O Tônico Lino

É Consolação em mim
Centro do meu mundo
Como se dali
Partisse tudo

As pessoas dali
Como forma às demais
Só se muda algum detalhe
Para não ficarem iguais

sábado, 27 de junho de 2015

CISMA



Eu era criança lá na roça
Sempre via terra arada por boi
Mas certo dia houve a novidade
De que apareceram com trator

Encantei-me com a máquina
Aração tão perfeita e rendendo mais
Ia rasgando a vargem do Tio Dutra
Destruindo os ananás

Mas numa moita das graúdas
Descortinou-se um ninho de anum
Gelado, eu gritei. O tratorista
Não considerou filhote algum

Se fosse aração a boi, sei,
Aquilo jamais aconteceria
Enjoei-me. Acabei cismado
Com máquinas desde esse dia

Lógico que máquina é máquina
E é o próprio homem quem a guia
Mas ela o torna frio e então
Não considera o que consideraria

CANTIGA A CONSOLAÇÃO



Sou mineiro, sul mineiro
Vou lhe contar de onde sou
Terra cortada pelo Capivari
Nunca vi povo tão bom

Cingida de belas montanhas
Alturas de ar tão puro
Ao nascer do sol dourado
A certeza de um belo futuro

Algo lhe digo
Amigo meu
Se não for feliz ali
Não será em lugar
Nenhum

É terra boa
Inspiração
Consolação,
Consolação.

Da Matriz
O sino pulsa
Vida e paz
A população.

Rota de caminho santo
Erguida a enxada e suor
Cravejada de pedrarias
Em natureza sem igual

Tem as histórias dos velhos
A esperança dos meninos
A culinária é tão generosa
E as moças são tão lindas

Religiosos são
Amigo meu
Mas se lhe ameaçam
É certo que
Lutarão

Chuá, Chuá
Canta a cachoeira
Consolação,
Consolação.

Sua vocação
É grandeza
Que nem todos
Enxergam
Que nem todos
Enxergam

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Sem perceber


Ela costuma criticá-lo,
Quase impondo seu jeito.
Também, é cada vacilo dele,
Que nem acredito.
Mas é um jogo...
E acho que decifrei.
Ela critica como a lhe dizer
Que sem ela a vida lhe é atrapalhada.
Ele por seu turno erra até
Inconscientemente por querer
Para lhe dizer que precisa dela
Que sem ela não é nada
E assim vão se dizendo
Eu te amo sem dizer
(E até sem perceber)


Colheita



Meu pai teve boa
Colheita de milho
Pode até vender um
Pouco a um sujeito
Que não pagou
Também, meu pai
Não cobrou
Mas para quem
Tem vergonha
Cobrança não é
Coisa que se ponha
Ano vai, ano vem
E quem colheu bem
Foi o sujeito
E quem precisou
Foi meu pai
Negocio feito
Papai fez referência
Ao negócio antigo
O sujeito desconversou
Se fez de desentendido
Papai pagou
Minha mãe pegou fogo
Ser bom é uma coisa
Outra e ser bobo
Meu pai comendo
Arroz com tomate
Mastigando bem
Disse: é verdade
Mas é certo também
Que cada um responde
Pelo que faz
Mamãe não se acalmou
Você é bobo demais
Na terra do sujeito
Alguns dias depois
Um raio levou vinte
Dos seus bois

quinta-feira, 25 de junho de 2015

NÃO EUS


NÃO EUS

Às vezes sou assombrado
por eus mortos antes de nascer
uns não uns eus que não fui
mesmo podendo ser

tem não eu cantor
casado com outra pessoa
Na Delphi em Paraisópolis
Até na lida de roça

buscam assombrar-me
reluzindo certos como seria
que sei são enganação
ecos de outro dia

como foto de Instagram
apenas o lado bom
sou o melhor que poderia ser
xô xô xô

agora se não sou
sou o que mereço
e aí é mais do que justo
pagar o preço

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Carne de quê



Minha mãe não
Queria carne de vaca
Meu pai, sim
Pelo leiteiro
Chegou embrulhada
Em letrinhas
Era de vaca
Mamãe louca
Atirou o embrulho
No capim
Irritada,
Não iria buscar
De jeito nenhum
O papai com mais
Raiva ainda
Também não iria
Desferiu palavras
Duras. Socou o ar
Eu fui lá, busquei
Disse para ela
Que foi ele
Quem pediu
Ela gostou
Da chance
De se redimir
Falei com o pai
Que ela
Mandou buscar
E preparou
Caprichado
Era para ele
Ir almoçar
Já estava pronto
Ele comeu
Com boca boa
Elogiou o preparo
Sem dizer nada
Ela sorriu
Mudou de assunto
Não me agradeceram
Parece não perceberam
O que fiz
Mas isso não
Me importou
Gostei foi
Da nossa tarde feliz