Mil novecentos e oitenta e poucos...

Meu pai caminha pela plantação

Respira fundo, relanceia o olhar

Encanta-se com o viço do cafezal

Está animado. Como não estar

Furando a manhã luminosa

Revoam borboletas e andorinhas

Lá embaixo, em nossa casa

Mamãe estende roupas coloridas

Papai já imagina a produção

Êh, meu Deus! Que coisa boa

Sorte que ouvi o velho Sebastião

Conselho de pai, Deus abençoa

O sino bate horas lá na Capela

Papai para um pouco, se acocora

Brinca com a terra escura

Fecha os olhos. Sonha, sonha

Imagina os grãos caindo em chuva

Uma montanha de café subindo

Me darei mal uma ova

Ri do agouro de “certo” vizinho

LIVRES

Amiúdo os olhos

Eles brilham

Vejo dois pássaros

Voam num céu azul

Às vezes penso que

Também eles

São azuis

Às vezes penso
Que o céu não 
É azul

Mas os pássaros
Voam mesmo
Assim

Voam desenhando ondas

Que em alguns momentos

Se coincidem

Outros se chocam

Quando se chocam

Me fazem pensar

Que são apenas um

Não tenho certeza

Aí me lembram

Pingos de tinta

Numa paleta 

Céu e pássaros

Pingos que se 

Fundem

É estranho que eu

Não goste quando

Se pareçam um

A sensação de liberdade

Vem de quando 

Estão separados

Livres, livres, voam

Porque queremos

Acabar com as diferenças

Se é exatamente delas

Que vem o inusitado

A força a saída

Voo, voe

AMANHECER NA MONTANHA

Caminhando na

Madrugada
Dos passarinhos

Subimos, subimos
Queremos a mais
Alta montanha

A brisa úmida
Parece vinda
De outro mundo
Um mundo
Melhor

Como pássaro que
Troca troca as penas
O céu vai aos poucos
Cedendo suas
Penas pretas

No local, o nascente
Penas avermelhadas
Vão se arregalando
Fortes, brilhantes

Vêm com aquela
Força capaz
De eclodir sementes

O capim lavado
De orvalho nos
Benze tornozelos

Eu, o Michender, o Dário
O Jaime, o Luan
Avançamos,
Avançamos

Lá embaixo o rio
Parece acordar
Contorcendo-se
Despreguiçando-se

Logo o sol vem
Vem de longe
Vem doce
Vem novo

A paz que se
Experimenta
Nesse momento
Nem dá para
Explicar

É algo capaz
De comover