sábado, 28 de setembro de 2019

esquisito

o canário fez um giro sobre a casa
pousou macio na conteira
a manhã era clara e fria
o Zé Gomes conversava
com o papai, no retiro
falavam não sei o que
do sr Antônio D'elisa
eu olhava, olhava o canário
tinha a cabeça vermelhinha
fui chegando, chegando
passei meio abaixado
pelo canteiro de roseiras
feito gato em caça
ouvia o pulso mavioso do
leite que meu pai ordenhava
estourando espumado no
fundo do balde
falavam algo positivo
do sr Antônio D'Elisa
o canário arrepiou peninhas
começou a cantar dourado
eu me endureci feito galho
olhos brilhantes, ouvidos abertos
o Zé Gomes disse-me
“o que tanto olha aí menino?”
eu segui num silêncio de galho
O Zé Gomes insistiu, firme
"é o canar..." eu mal começava falar
meio cochichado e o canário voou
repicou as asinhas como eu receava
"nada, não, seu Zé", completei
eita que moleque mais esquisito
disse o Zé Gomes. Meu pai sorriu
eu saí resmungando. Olhando para
o céu e para as bananeiras
Concordei com o Zé Gomes
Esquisito... Ele acertou em cheio

sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Cascas


Ah! Que estou
Cansado, viu
É tanta ilusão

A tinta da mente
Vaza pelos olhos
E pinta o mundo

E a gente achando
Que o problema
É o mundo

Quero distância
Do que me faz
Pensar que preciso
Bem mais

Quero a paz
A natureza, o natural
Esconder-me em mim

Quem sabe o trigo
Do meu derradeiro
Pão até já foi 
Plantado