sábado, 24 de novembro de 2018

CASINHA DE ROÇA


quero fazer
do meu coração
uma casinha
de roça 

chão de cimento
queimado
café no bule
e bolão de
fubá a taipa

as portas
internas apenas
cortinas floral
de chita

janelinhas
de tábuas
por onde
nas trincas
entre a luz
da aurora

e chie o
ventinhos das
madrugadas

à parede
colorida
a tabatinga
muitos retratos
antigos

ao entorno
uma explosão
de flores
e passarinhos

com coração
Assim como uma
casinha desenhada
por criança

também serei
eu um pouco
criança

então cego
a tudo que não
vibrar com
esse contexto

terça-feira, 20 de novembro de 2018

PREMÊNCIA

o vento vaza
apertado pelo buraco
da fechadura
canta

ao alto a
massa cinza
rebaixa o céu
revira

rasgos de fogo
caminham entre nuvens
Trr-tree-trouummm
o chão treme
os pombos revoam

certa tensão
pressiona
os ouvidos
dos homens

sentimos
nos poros
quando a chuva
está por vir



quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Guardiãs


Pense no horror das
Arvorezinhas às madrugadas
Com que dificuldades
Guardavam o coreto
Se fazendo fortes para
Espantar os seres de morte
Que rastejam as madrugadas
Querendo comer a vida
A Capela, os casarões à volta
Afligiam-se
Mas elas conseguiam
Batendo palmas
(Ou seriam galhos)

Mas quiseram melhorar
Cortaram as arvorezinhas
Ruiu o coreto
Quem guardará a Vila Capivari

terça-feira, 6 de novembro de 2018

O Papelzinho Cinza

o papelzinho cinza na calçada
vem o vento sopra e sopra
o papelzinho treme, treme
o vento sopra e sopra mais
o papelzinho decola... sobe
o vento sopra e sopra
o papelzinho sobe e sobe
outros papeizinhos também sobem
mas o papelzinho cinza sobe mais
há um momento em que o papelzinho
cinza se esquece de tudo
acha que pode voar por ele mesmo
há outros que também creem nisso
e o papelzinho sobe e sobe
logo ele se incomoda com o vento
por agarrar-se nele para subir
além de elevar-se a si mesmo
ainda tem que aguentar o vento
como um baita lençol que sobre aberto
mesmo irritado o papelzinho aprecia que
outros papeizinhos voantes o sigam
ele olha a nuvem de seguidores
olha outros papeis ainda colados
ao chão o aplaudindo
ele se sente envaidecido
o vento sopra e sopra
os papeizinhos sobem e sobem
e muito mais sobe o papelzinho cinza
mais há o momento em que o vento vira
murcha-se num ponto e infla-se em outra direção
todos os papeizinhos despencam
mas imaginem o maior tombo de quem foi