quinta-feira, 24 de dezembro de 2020
visita
sábado, 19 de dezembro de 2020
equalização
triplica-se
mas a noite explode
em muitas vozes
para que outras
tentem acertar as
coisas
terça-feira, 1 de dezembro de 2020
Menina na Janela
na janela
tão bela
tão bela
aposto que diz
sou tão feliz
sou tão feliz
seus cabelos
sorri-me
nos seus olhos
mexe comigo
estou perdido
estou perdido
nessa janela
vou levar
essa menina
pela vida
será meu sorriso
será meu sorriso
sem destino
no meu cavalo
invisível
óculos redondos
e seu cachorro
dourado
tempestades
não serão
tão cinzas
será minha cura
jamais minha
doença
com coisas pequenas
nos nossos dias
de leve poema
me de sua mão
farei de tudo para
lhe merecer
o coração
sexta-feira, 27 de novembro de 2020
Limitado
segunda-feira, 23 de novembro de 2020
1979
sobem na flor d'água
para ver a tarde
na curva da estrada
o cachorro amarelo
corre atrás das sombras
dos pássaros em voo
o gato gordo olha o mundo
derretido de preguiça
o vento faz cócegas
nas laranjeiras que
tremem folhas de rir
a paisagem parece
desbotada qual foto antiga
o berro das vacas parece triste
o pio do gaviãozinho também
o menino olha para o céu
derramado de nuvens amarelas
pensa amanhã neste horário
já serei morador de cidade
será o céu de lá tão bonito
com um canivetinho ele risca
no tronco laranjeira: 1979
quinta-feira, 19 de novembro de 2020
casa diferente
quarta-feira, 14 de outubro de 2020
facilitude
sensações, sons, filmes, fumaças e pessoas
sim, sim, tantas são as pessoas
todas que conhecemos, ali, duplicadas
onde não morrem, apenas se desvanecem
sumir de todo a de ser raridade
conversamos uma vez com alguém e zás
uma cópia dela salta nesse nosso gasoso
como a Janete (a Jane), a prima paraguaia
uma cópia dela mergulhou em mim
do jeito que desenho que ela seja
sempre olho para ela com vontade de colori-la mais
mas com o tempo trocando-me suas telas
outras coisas reclamando-me o olhar
sigo sem saber mais da prima do Py
que me intriga porque penso que o
olhar dela seja triste
queria saber mais desse olhar
meu avô falava que tenho facilitude
concordo. mas é caso fora de controle
se está crescido, pronto, existe-me
acho que dentro da gente tem
um mundo maior do que o outro
quem sabe a prima paraguaia queira me contar
que a tristeza que vejo não é dela
e que não há motivo algum para tristezas
nem da parte dela e nem da minha
quarta-feira, 7 de outubro de 2020
Risadões
Por aquele tempo em que eu morava em Cambuí, estive algumas vezes de férias na casa da minha tia Zilda, na Estiva. Seria entre 1978 e 1981. Era uma alegria. A casa tão cheia de flores. Flores por dentro e ao redor. Flores até nas blusas da tia. Muita comida boa, falatório alto e vivo, risadões. Ele me disse que mamãe “era como era” porque em criança ferveram um favinho de mel de marimbondo para tratar de uma asma dele. E que não viram; mas ao desvelo dos adultos, mamãe engoliu um marimbondo, que desde então mora na cabeça dela. Que quando ele cutuca, minha mãe marimbondeia (ou seja, sobra exageradamente brava com qualquer coisinha). Ela Sorria, eu sorria. Com os risadões dela congelados em minha mente eu ia para o pomar, envolvido com laranjas, passarinhos e caramujos. A tia me chamava quase de hora em hora. Queria que eu comesse. Eu agradecia, dizia-me satisfeito. Ele falava que criança não pode passar fome. Aliás, que ninguém pode passar fome, completava. Eu sorria, ela sorria. Eu voltava para o pomar dos caramujos. Ela perguntava o que eu tanto fazia lá. Como que eu ia explicar para ela que o pomar, tão afeito a terra, era-me mágico, com capacidade de abrir-me para outra dimensão. Eu apenas dizia: nada não, tia. Ontem mamãe ligou-me, emocionada. Disse que a tia partiu. Senti-me cortado de uma secura fria. O corpo da tia vai-se para o reino da terra, mas o perfume dela não. Será para onde ela vai haverá comida da boa? Ou será um muito melhor? Risadões certamente haverá. (Os risadões dela ecoam-me até hoje, misturados a uma lembrança de cheiro de terra fresca). A tia merece tudo que vier da luz. Merece uma dimensão muito, muito mais agradável do que é para uma criança um pomar sombreado repleno de laranjas, pintassilgos e caramujos.
sábado, 3 de outubro de 2020
PALAVRAS
Confesso minha
dificuldade com as palavras
até que tento me externar
por meio deles pois
é o que resta
espécie de bando de
canarinhos revoando
daquele jeito embolado sabe
como uma dança no ar
como por esses passarinhos em fila
que graça tem quão limitante é
é quando a comunicação é pelo fala
então minha dificuldade é maior
saber do que sinto pelo que digo
e como olhar o carnaval
pelo buraco da fechadura
limitante por mais
que me esforce
senão passo por vazio
assim do sentimento inquieto
que enxameia abundante
externo gotas para você
há um mundo
um mundo que vai
se revelando
apenas para
quem está disposto
a chegar pertinho
são parecidas
mas é engano
o ancião que
há em cada
uma delas
está disposto
a explicá-la
junto dele
são bichos ariscos
escondem-se principalmente
de quem não tem
recordar-se de palavras
como idiossincrasia
apanágio consentâneo
claudicar deletério
extemporâneo corolário
tergiversar augúrio
valer das lhe vem
palavras sem-vergonhinhas
de Manoel de Barros
entendi a dificuldade
com palavras como
quem é bom de fala
parece ter certa ligação direta
entre a caixinha de pensar
e a maquininha de falar
então falam falam
outros (os poetas) pensam
e até que a coisa lhe saia pela
boca passa por um vale de
falar significaria organizar
esse caos maravilhoso
em palavras e frases
não é fácil mas
terça-feira, 29 de setembro de 2020
2020
a noite já cai, suja
dos postes escorrega uma
luz embaçada e vaporosa
mariposas giram giram
como sentissem dor
como quisessem fugir
mas não soubessem
para onde
mascaradas apressadas
vão como enfeitiçadas
como não vissem nada
as luzes doentes
me fazem fantasiar
um franzido de maldade
nas sobrancelhas delas
eu olho olho olho
não vejo nada nada
uma mariposa bate em mim
meu coração salta
acelero aterrado
não gosto dos ecos
dos meus passos
parecem contagem
regressiva para algo ruim
penso vir uns gritos
mas são inumanos
não tenho coragem de
de parar para olhar
mesmo porque passos
que vem do beco
me fazem acelerar
confiro minha máscara
uma janela expulsa uma
ponta amarelada de cortina
que agitada parece querer
me assombrar ou alertar
peito apertado
sábado, 26 de setembro de 2020
curto
para bulícios
nada disfarçado
de algo logo ali
vaidades
quero é mais
atalhos
do qual fogem
é o que busco
para risadas
cafés quentes
e alvorecer de
corruíras
quarta-feira, 23 de setembro de 2020
De Quando Ainda Não Me Existia Luciana
mas já estou sonhando com Luciana
a tarde passearemos na praça
alegres e as mãos dadas
os amigos terão inveja
as meninas torcerão o nariz
cochicharão quem é essa
tomarei Luciana pelas mãos
tomaremos um sorvete
nosso primeiro beijo será
perto do coreto, e gelado
nossos destinos estarão selados
viverei feliz com Luciana
espero que seja bonita
mas se não for tão linda
nem ligo
bom coração haverá de ter
e também riso fácil
daremos voltas e voltas na praça
as mãos dadas
ela gostará de mim
mesmo que eu não seja tão forte
mesmo que eu não seja tão calmo
mesmo que eu não seja bonito
mesmo que eu seja estressado
ela sorrirá dos meus defeitos
abraçara-me pedira calma
nem sei se a conhecerei Luciana
nesta festa da cidade
mas se não, tudo bem
tem o Natal
depois a Semana Santa
a outra festa
não tenho pressa
se bem que, confesso
seria bom que ela viesse logo
tenho tanto para dividir
tanto para contar
tem os beijos que não quiseram receber
ela haverá de querer
ah meu Deus, quero apertá-la tanto
ela haverá de gostar de tudo
sempre sorrindo
onde estará minha Luciana
já andei confundindo-a
com outras por aqui
como ela será
terá sardinhas no rosto
espero que sim
acho um charme
será que também gostará raspa de arroz
qual será a cor dos olhos dela
será da cor que Deus quiser
faça chuva faça sol eu vou
na próxima festa, digo
tenho medo que Luciana vá
e eu não esteja lá
até pedi para mamãe comprar-me
uma camisa laranja-sol, na Ica
quero ser visto
não quero Lhe apressar, Deus
mas se for nesta festa
juro que levo em Aparecida
uma foto minha e de Luciana
ponho aos pés da Santinha
preciso muito das cores
que Luciana me trará
para o mundo
sábado, 19 de setembro de 2020
Tio Andrelino
Com sessenta e cinco
Disse que queria
A idade do pai Tonico
Já na outra esquina
Mudou para os noventa
Da mãe Leontina
Da idade da mãe
Muda novamente
Diz que quer mais
Que temos que ir
[sorri sorri]
Quer os cento e oito
Da Tia Nair
Bem se vê
Como é
Já-já quer os
Novecentos de Noé
Viva viva viva
O Tio Andrelino
Sempre alegre
Como um menino
segunda-feira, 14 de setembro de 2020
Hesitação
sábado, 22 de agosto de 2020
MUDANÇAS
O Josino encostou o caminhão, desligou o motor. A poeira foi se assentando, invasiva. Um frio de gelo varreu minha mãe por dentro. Ele sentiu enjoo. Os homens foram amontoando tudo. Embarquem minhas coisas com jeito, ela movimentou os lábios como para dizer; mas a voz não saiu. Era como se ela não estivesse ali, como vivesse uma experiência fora do corpo. O peito sufocado e o estômago como cheio de pedras ajudavam a deixar a experiência ainda mais amarga. Numa manobra agressiva, arranharam a máquina de costura dela. Ela sentiu como lhe arranhassem o rosto. Não disse nada. Não tinha forças. Era máquina que comprou em solteira, com dinheiro de frangos e bordados. Era como houvesse um enxame de abelhas em sua mente. O Carlinhos chegou com um pacote nas mãos. Não tinha o riso de sempre no rosto. O gato passou correndo. Olha o gato! Olha o gato! Pega ele, Tadeu. Pega! Enfim a voz dela saiu. Mas saiu esquisita. Ela sentia como se outra pessoa falasse. Acabou que o Carlinhos pegou o gato. Prenderam o bicho numa caixa de papelão. Pronto! Disse alguém. Meu pai suspirou, olhou ao redor. Ele tinha que ser forte; mas na verdade não sabia se estava fazendo o certo. Fechou toda a casa. Minha mãe olhou as janelinhas e portas de tábuas fechadas. Que aterramento. Ela tirou o olhar da casa e achou estranho o terreiro sem suas galinhas, distribuídas aos vizinhos. Mas e das flores, quem cuidaria? Flores que foram se amontoando em volta da casa, ao longo dos anos. Mudas de uma comadre, de outra, das manas da Estiva, da própria mãe, já falecida. Mamãe tentou comer um bolinho. Eram bolinhos da madrinha que havia no pacote que o Carlinhos trouxe. Mamãe não conseguiu engolir. Ao invés de massa, o bolinho parecia de areia. O casal de canarinhos que sempre chocava ali, pousou nas roseiras. O machinho cantou. Mamãe olhou para ele. Parecia canto de despedida. Ela que achava a cantiga deles tão viva e alegre, ali achou triste. Um berro de vaca que veio de longe, lá dos Tio Otávio, pareceu triste também. Vamos Ilda, vamos! Meu pai gritou. O caminhão já funcionava. Enfim ela chorou. Havia uma vida ali. Sabia da história de cada cantinho. Ela tentou imaginar como seria em Cambuí. Achou apenas fumaça. Ela embarcou. Eu pulei na carroceria. Ajeitei-me num canto. O gato na caixa de papelão pulava desesperado. Também não queria se mudar. Começamos a rodar. Apenas elevei uma mão, em despedida ao Carlinhos. Ele também levantou, tentou sorrir. Ele seguiu o caminhão, a pé, até a curvinha da ponte. Foi ele quem fechou a parteira. Minha mãe chorava copiosamente. Mal sabia que dali uns anos choraria novamente pelo mesmo motivo. Quase o mesmo, digo. Por que de certa forma era o mesmo motivo sim. Ali chorava para não partir. Mas adiante, choraria para não regressar.
sábado, 8 de agosto de 2020
Abrigo
Às vezes eu abria um
risquinho de janela, durante a noite. O ranger das dobradiças da janela de
tábuas era aterrorizante. O mundo lá fora era de arrepiar. Um sopro frio. Uns pios diferentes,
principalmente do urutau. No brejo os coaxares mais lembravam gritos. Os cachorros
corriam em volta da casa, desesperados, como a protegessem de um monstro nas vizinhanças. Tinha vez que eu escutava até baques de tiros. Meu pai falava em
caçadores. Eu não me conformava de alguém ter coragem de sair de casa a noite,
ainda mais para adentrar matas. Um dia meu pai preparava um cabo para machado e
me chamou. Olhe aqui. Disse-me. Com um indicador duro mostrou chumbos cravados
na madeira que vinha da matinha do nosso sítio. Então era verdade. Depois disso o meu medo de onça piorou. E dez
vezes maior, à noite. Presença de caçadores para mim significava presença de
onça. Acaso o tio Toninho não matou uma? Um medo que me tolhia o prazer de
contemplar o rendado brilhante do céu noturno, que na roça é muito, muito,
muito mais lindo. Mas com a tramela girada, janela fechada, eu me sentia muito
bem e seguro. Sabe aquela sensação gostosa de que nada, nada poderá nos atacar.
De que nada, nada nos faltará e para isso não precisamos fazer nada. Então...
Não há riqueza maior. Eu tinha pena era dos bichos lá fora, sem um lugar seguro
para passar a noite. Aquela casinha normal, tijolinhos débeis assentados em
barro, um telhado que nem forrado era, a mim era bolha de proteção graças ao
meu pai. Aquele esmalte de superproteção era coisa dele sempre presente, com
suas histórias, com o rádio nas músicas sertanejas, brincalhão, sério. Quando
ele saía, no máximo na boquinha da noite já ouvíamos em festa o tropel do
cavalo. Era ele que voltava de alguma comprinha. Certeza que viria um pacote de
balas para nós.
Que os pais signifiquem proteção
aos seus filhos. Que lhes signifique abrigo.
Meu pai está de parabéns.
Cumpriu e cumpre muito bem sua
missão.
Até hoje.
terça-feira, 4 de agosto de 2020
Completude
o vento treme os pinheiros
quinta-feira, 9 de julho de 2020
véio doido
sexta-feira, 3 de julho de 2020
Embrulhada
segunda-feira, 29 de junho de 2020
AGORA
no Paraná
melhor recompor-me
viver mais 100
no agora
quinta-feira, 11 de junho de 2020
o fantasma do sr kurt
inclusive os pensamentos