terça-feira, 29 de setembro de 2020

2020

venho receoso
a noite já cai, suja
dos postes escorrega uma
luz embaçada e vaporosa
mariposas giram giram
como sentissem dor
como quisessem fugir
mas não soubessem
para onde
 
ao longe passam pessoas
mascaradas apressadas
vão como enfeitiçadas
como não vissem nada
as luzes doentes
me fazem fantasiar
um franzido de maldade
nas sobrancelhas delas
 
uma freada tensa longe
eu olho olho olho
não vejo nada nada
uma mariposa bate em mim
meu coração salta
acelero aterrado
não gosto dos ecos
dos meus passos
parecem contagem
regressiva para algo ruim
 
de debaixo do viaduto
penso vir uns gritos
mas são inumanos
não tenho coragem de
de parar para olhar
mesmo porque passos
que vem do beco
me fazem acelerar
 
corre um brisa ácida
confiro minha máscara
uma janela expulsa uma
ponta amarelada de cortina
que agitada parece querer
me assombrar ou alertar
 
acelero, acelero
peito apertado
minha boca parece não
ser capaz de buscar 
o oxigênio que quero  
que saudade da minha terra
que saudade de tudo
como era

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