sábado, 3 de outubro de 2020

PALAVRAS

I
Confesso minha
dificuldade com as palavras
até que tento me externar
por meio deles pois
é o que resta
 
mas meu sentimento é
espécie de bando de
canarinhos revoando
daquele jeito embolado sabe
como uma dança no ar
 
elaborar uma frase é para mim
como por esses passarinhos em fila
que graça tem quão limitante é
é quando a comunicação é pelo fala
então minha dificuldade é maior
 
reconheço na minha
incompetência
algo de preguiça
saber do que sinto pelo que digo
e como olhar o carnaval
pelo buraco da fechadura
limitante por mais
que me esforce
 
mas não desisto de tudo
senão passo por vazio
assim do sentimento inquieto
que enxameia abundante
externo gotas para você 
 
II
 
em cada palavra
há um mundo
um mundo que vai
se revelando
apenas para
quem está disposto
a chegar pertinho
 
de longe muitas
são parecidas
mas é engano
o ancião que
há em cada
uma delas
está disposto
a explicá-la
direitinho

mas apenas para
quem estiver disposto 
a achar um bocado
de tempo achegado
junto dele
 
III
 
as palavras geralmente
são bichos ariscos
escondem-se principalmente
de quem não tem 
paciência com elas
 
é quase impossível
recordar-se de palavras
como idiossincrasia
apanágio consentâneo
claudicar deletério
extemporâneo corolário
tergiversar augúrio
 
aí temos que nos
valer das lhe vem
palavras sem-vergonhinhas
como coisa, negócio, trem
 
IV
 
hoje li no livro 
Infância inventada
de Manoel de Barros 
algo que me fez bem
entendi a dificuldade
com  palavras como 
requisito para poesia
quem é bom de fala
parece ter certa ligação direta
entre a caixinha de pensar
e a maquininha de falar
então falam falam
outros (os poetas) pensam
e até que a coisa lhe saia pela
boca passa por um vale de
curvas sensações e imagens
falar significaria organizar
esse caos maravilhoso
em palavras e frases
não é fácil mas 
o resultado é diferente  

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