domingo, 26 de fevereiro de 2017

O CASARÃO

A Tia Bernadethe
Não se esquece 
Daqueles verdes dias
Vividos ao casarão
Ladeado da Capela
Em Consolação
Seu quintal
Até a montanha
De araucárias

Sem padarias
Saboreava
As quitandas
Da mãe Ursulina
(Que gostava
De rosas)
E era um primor
Na cozinha

Ao forno
De barro
Roscas
Broas
Bolos
Biscoitos
Bolachas

Às vezes a
D. Ursulina
Era ajudada
Pela Dita da Vi
Também quitandeira
Com mãos
Divinas

Próximo ao
Forno, um
Alto porão
A tia lembra
Da zonzeira
Do seu primeiro
Cigarro de palha

Tem curiosidade
Em saber 
Quem construiu
O casarão
Com paredes
Até de pau-pique

Ah, quanta saudade
Das quitandas
Das rosas
Das montanhas
Dos pais
Do casarão
Que não existe mais

Dele ela guarda
De lembrança
Um prego
Isso, um prego
Que olha para
Ter certeza de que
Tudo foi verdade

O prego lhe prega
Certeza de realidade
De um tempo de criança
Vivido num casarão
Ladeado da Capela
Em Consolação
Com o quintal
Até a montanha
De araucárias

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Ser simples


Essas pessoas simples
Simplinhas mesmo
Lá do cantinho delas
Geralmente pouco vistas
(Às vezes até com
O nome Zé)
Muito nos ensinam
Com elas está
O fino do humano
O simples aceita
O simples ajuda
O simples acredita
Ama o sol
Ama a natureza
Ama os passarinhos
Ama a sua vidinha
O simples é lindo
É lindo, mas complexo
(Ele não tem que
mover  montanhas
Ele não vê montanhas)
Muito muito complexo
Nos perdemos
Deus às vezes
Manda algum para cá
Para nos mostrar
Como é

POEMA


É encantadora
A palavra poema
Lembra pomba
Paina pena
Também pomar
Pomo ame poente
É palavra doce
Expressa sublime
Liberdade

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

NÃO SEI. NÃO SEI

Eu com a vovó Dita na procissão
Vamos pela rua de baixo
Lá pela frente à casa do Sô Joca
Olho lá pros lados da velha Fábrica
O fim da procissão ainda não se vê

Olho para o inverso, a velha praça
Por ali a cabeça da procissão
O padre falando na espécie
De funil grande que faz
A voz ficar potente

Tento rezar com fé, mas com fé mesmo
Mas aos olhos abertos não consigo
Distrai-me a multidão
E se fecho os olhos, é só "tropicão"
(Rezar de olhos abertos entendo mera repetição)

O padre para, voz clemente. Fala em pedidos
Penso pedir uma moeda de ouro
Mas notando tantos olhos fechados
Bocas se movendo como cochichasse
Nem fecho os olhos. Refreio-me.

Já pensou se por meu pedido
Deus se esquece de algo importante
Pedido por outro menino
(Quem sabe até comida)

Será Deus anota todos os pedidos
Será não se esquece, será não se irrita
De repente penso não seria
Como se Ele nos desse as varinhas
Mas vivêssemos pedindo peixe

Não sei. Não sei. Sei que
(Dobram e redobram os sinos)
Desisto do pedido de moedinha
Acabo ficando na casa de
Meu outro avô, o Lazo Doca

Faço tchauzinho à vovó Dita
Melhor estudar para a prova
Do outro dia: Geografia
Estão cada vez mais custosas
As provas da Dona Lucilia

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Sinergia

Aqueles dias
Eram dias
Mesmo incríveis
Para você ver
O carreiro Tião
A carro de bois
Levava os meninos
(Lá da fazenda
Do Antônio Rocha)
À escolinha
Em Consolação
De noite
Nos conta Cida e João
Os meninos
Cadernos às mãos
Ensinavam a lição
Ao carreiro Tião
Que assim
Aprendeu ler
E escrever
(E ainda sobrava
Para causos
E risadas
Sem falar
Das tardinhas
De pescarias)
Pensa bem
Quem aprendia
Com quem

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

BEM-TE-VI

Eu pela Afonso Pena
Rumo a Praça 7
Olhando os desenhos
Deitados às calçadas

Qual coincide com
O daquela foto
Em que o Sr Ditinho
Arrasta a filha

O dia é quente
Tanta gente
O mundo abafado
Eu melancólico

De repetente: o desenho
Faço umas fotos
Corre uma brisa
Palpita-me o coração

Recordo a cidadinha
Ao alto da montanha
Como a estrela
Da árvore de Natal

Animo-me, vejo
Que nós os vivos
Temos que
Aproveitar a vida

Para continuar
Com o belo
Do trabalho dos
Que já se foram

(Por ali gorjeava
Um bem-te-vi
Ninguém parecia 
Mas eu percebi)

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

COLHEITA

O pai e o tio Otávio
Alternadamente
Malham os feixes
Fazendo dourar o chão
Com os grãos debulhados 

Cada golpe na mesa
De varas roliças
Quase enlouquece
A passarada

O Getúlio e o Lélis
Ágeis puxam alfanjes
Conversam sorriem
Vão deitando o arrozal

O tio Valdomiro e
O padrinho Braz
Ajuntam ajeitam
Carregam os feixes

(Esse é o pior trabalho
Pela ampla coceira que
Alastra na gente)

Quando o balcão
Avoluma-se demais
Eles dois também
Ajudam a bater

Dar aquele arroz todo
Batido e ensacado
Tudo num dia só
É mesmo de se admirar

Arroz para a nossa
Casa o ano todo
Quem é que pode
Com a união do povo

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Contemplação

O beija-flor
Beija a florzinha roxa
Perto do curral
E a brisa chega verde
Por entre as árvores
Do pomar

Perto da igrejinha
Cachorros latem
Perecem irritados
Com a alegria gratuita
No canto dos
Pássaros-pretos

Da rede xadrez
Eu me pergunto
O que sinto
Sei experimento
A máxima felicidade 
Ao homem permitida

Respiração suave
Dor nenhuma 
Gosto de água
De mina à boca
Sensação levemente
Fervilhante ao peito

Nada de desejos
Ou arrependimentos
Apenas o agora
Num sentir-me inteiro
Um raro azul
No meu costumeiro
Tempestuoso céu

Sobrando sonolento
Desse meu pensar
Não me decifro
Meus olhos pesam
O joão-de-barro
Como sempre
Dá risada de mim

Melhor deixar
A conclusão
Para depois
Decido assim

Acho que é isso
Vive melhor quem
Menos se envereda
Às vias do querer
Entender e controlar

Felizes são os
Passarinhos

terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

MAIS DIA MENOS DIA

Diz o Tiaozinho
Que em idos tempos
Ele pescava lambaris
No Ribeirao Capela
Bem debaixo do chorão
Tão gostado por sabiás

Sua mãe Fiica
Gritou com ele
Que fosse ao comércio
Do Joaquim Marques
Imediatamente
Gritou tão forte
Espantou os sabiás

Em resposta ao
Questionamento dele
Ela disse ser caso
De tecido claro
Então soube ser
Gente nova que falecera

Fosse gente mais velha
E a cor do tecido
seria séria
De preferência
Um rajado para cinza

Era alguém da
Fazenda da Paz
Da família Coutinho
Ele não conhecia
Seu pai Marcos Floriano
Construía em tábuas o caixão
Que sepultava os defuntos
Em Consolação

Quanta dessemelhança
Dos dias atuais
Só a morte segue intocável
Sem dó um a um
Nos levando a todos nós
Mais dia menos dia
Igualzinho antigamente