terça-feira, 30 de janeiro de 2018

bolha

Às vezes nascia flor no jardim
Sem ninguém plantar
A madrinha falou que eram
Os anjos que plantavam
Eu era muito pequeno
E acreditei

Não tinha nada de
Norte Sul Leste Oeste
Era no Pico da Paz
Que nascia o Cruzeiro do Sul
Na divisa do Zé Marques
Com o padrinho Braz
Nascia o sol
Que às terras do
Tio Ico se punha

Chuva lá dos lados
Dos Teófilos vinha
E se escutasse a Fernão Dias
Era certeza de
Chuva mais tarde

Nas tempestades
Aquelas pereiras no
Alto do Antônio Rocha
Chiavam feio
E eu tinha medo
Tinha aquela história de
Que alguém matou alguém lá
Parece que eu receava que o
Morto fosse acordado

Os vizinhos multiplicavam
As informações pelo grito
A madrinha recebia grito
Da tia Elza que lançava pra
Mamãe que mandava
Pra tia Tereza

Se algum vizinho matasse
Porco todos comeriam
Carne de porco no jantar

A nossa usininha elétrica
Era apenas pra noite
A novela das nove aguentava
Já o filme de depois
Era melhor nem começar

Na escola era apenas
Uma sala para todas
As séries
De primeira a quarta
Uma só professora
E era uma delícia
Jogávamos bola
Perto da igrejinha

Ah, aquele mundo pequeno
Era pequeno mas cheio de cor
Nem excesso nem escassez
Até acho que havia mesmo
Anjos plantando flores
Nada essencial faltava
Nada essencial faltava
Não sei por que teve que crescer



sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

PRECIPÍCIOS

Eles me olham
Olhar duro
Certeza da minha chatice
Pela minha ruga

Acham esquisito
Que eu desvie o olhar
Então me desprezam
Sujeito estranho

...
Não sabem dos meus Precipícios
...
...

O curioso é perceber que
Também julgo a quem vejo
E assim vamos nós
Tão próximos, tão distantes

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

docinho de leite

Ontem aquela moça me disse
Que sentir saudade é rejeitar o presente
Como afirmá-lo sem graça e brilho
Que melhor seria que não tivesse vindo

Observei que eu não entendia assim
Que a saudade boa não é refúgio
Mas sim flor antiga que perfuma até hoje
Uma brasinha que aquece a qualquer tempo
Um docinho de leite cujo dulçor não acaba nunca

Isso acrescenta a instabilidade do presente
Uma constante sensação de gravidez que
Não sabemos se vai acabar em carinho ou soco
Um “não sei onde vai dar” que o que tem
De bonito tem de assustador

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

Contramão

Esse negócio
De Ano Novo...
Sinto certa
Fome por esses dias
Mas não encontro
Muito alimento
O ralo aguado
Dumas frases
Todos em Hollywood
Uma barulheira
Sem propósito
Isso de repensar
É positivo
Mas é tão improvável
Que mudemos
Qualquer coisa
Sigo entediado
Desconfortado
Desajustado
Acho que me
Fez falta o encontro
De didiano na 
Casa da vó Gelia