sexta-feira, 25 de outubro de 2019

Dias de Chuva


Desses dias chuvosos
eu gostava
o café quente parecia
mais gostoso
o fogão sempre aceso
atraía a gente
lá da varanda
eu olhava a serra
neblinada, bonita
o vento soprava, mansinho
as bananeiras dançavam
aquele ar ralo, úmido
enchendo a gente de vida
coçando o alto da cabeça do gato
eu gostava de ver os canarinhos
às beirados dos telhados
as andorinhas juntinhas
no fio de luz
os anuns encarangados
na paineira
uma sensação de limpeza
e o melhor desses dias
meu pai por perto
chegava da entrega do
leite com as notícias
do dia do bairro
e por ali ficava
até o almoço
especialmente
quente e fumegante
minha irmã com suas panelinhas
meu irmão com seus boizinhos
e eu com meu avoamento
ah, o sol parece que
morava dentro
da nossa casa nesses dias

sábado, 19 de outubro de 2019

gotas

Confesso minha
dificuldade com as palavras.
Até que tento me comunicar
por meio deles, pois,
é o que nos resta.
Mas o meu sentimento é uma
espécie de bando de
passarinhos azuis revoando
daquele jeito embolado, sabe
como uma dança no ar
elaborar uma frase é para mim
como por esses passarinhos em fila
que graça tem? Quão limitante é...
é quando as palavras vem pela fala,
então minha dificuldade é maior.
Reconheço que na minha incompetência
tem alguma coisa de preguiça
saber do que sinto, pelo que digo
e como olhar o carnaval
pelo buraco da fechadura
muito limitante, por mais
que se esforce
Mas não desisto de tudo
Senão passo por vazio
Assim, do sentimento inquieto
que enxameia abundante em mim
Externo gotas para você  

sábado, 5 de outubro de 2019

Não custa

em 1980 a novela que assistíamos era Marina
eu achava linda a Denise Dumont
e a abertura era tocante, com campos com capins dourados e cavalos livres tinha também aquela canção do Beto Guedes que eu achava meio triste mas trazia esperança, com o abrir das janelas do peito para o sol de primavera, num recomeço nesses momentos minha mãe ficava feliz tinha também que a canção falava em "já choramos muito" eu gostava do rosto iluminado dela, óbvio sempre assistíamos pela hora do jantar o azar foi que no derradeiro capitulo faltou energia elétrica em Cambuí era sexta-feira daquele já fim de ano tentando amainar a decepção dela sugeri brincarmos de "como acabaria a novela" ela topou. Falou um final. O óbvio aí falei: oh! mãe, e se a gente fizesse tudo diferente. Tipo, um final surpreendente aí começamos a pensar finais improváveis mas também interessantes no outro dia assistimos ao capítulo final que tradicionalmente repete no sábado por fim mamãe suspirou comprido disse, ah, gostei mais do nosso final 2 sorriu lindamente. Na vida acho que é isso às vezes é preciso de um pouco de criatividade de recontextualização, de "semear canções ao vento" de “abrir as janelas do peito”