em 1980 a novela que assistíamos era Marina
eu achava linda a Denise Dumont
e a abertura era tocante, com campos
com capins dourados e cavalos livres
tinha também aquela canção do Beto Guedes
que eu achava meio triste mas trazia
esperança, com o abrir das janelas do peito
para o sol de primavera, num recomeço
nesses momentos minha mãe ficava feliz
tinha também que a canção falava em
"já choramos muito"
eu gostava do rosto iluminado dela, óbvio
sempre assistíamos pela hora do jantar
o azar foi que no derradeiro capitulo
faltou energia elétrica em Cambuí
era sexta-feira daquele já fim de ano
tentando amainar a decepção dela
sugeri brincarmos de "como acabaria a novela"
ela topou. Falou um final. O óbvio
aí falei: oh! mãe, e se a gente fizesse
tudo diferente. Tipo, um final surpreendente
aí começamos a pensar finais improváveis
mas também interessantes
no outro dia assistimos ao capítulo final
que tradicionalmente repete no sábado
por fim mamãe suspirou comprido
disse, ah, gostei mais do nosso final 2
sorriu lindamente. Na vida acho que é isso
às vezes é preciso de um pouco de criatividade
de recontextualização, de "semear canções ao vento"
de “abrir as janelas do peito”
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