domingo, 5 de fevereiro de 2023

Premência

 

Eu tenho uns sonhos que, se contar, é capaz que duvidem. Mas, não me preocupo. Conto mesmo assim. Desta vez sonhei que estava em Consolação e que escrevi um poema sobre passado, presente e futuro. Que publiquei o texto na internet. E que o meu pai veio me falar que seu amigo José Pereira leu o texto e gostou. Disse que gostou muito. Aí meu pai me disse as palavras que o José Pereira lhe disse. Eu observei: pai, estou admirado com o entendimento avançado do José Pereira, e, igualmente, impressionado com o que senhor reteve das palavras dele. Significa que o senhor também está no mesmo nível de conhecimento/entendimento dele. Eu não lembro de nada do suposto poema que escrevi, e nem das palavras que meu pai falou. Incrível como nos esquecemos de tudo segundos após acordamos. Fica apenas a ideia. Ocorre que meu pai fez uma observação final e disso lembro. Ele disse, para finalizar, que o José Pereira arrematou dizendo que “é no presente que está a premência”. Refletindo, isso já acordado, sobrei surpreso. A palavra premência não está entre as que uso coloquialmente. Mal sei seu significado: urgência, que exige rapidez, conferi depois. Observo primeiro que, na verdade, em minha mente não haveria o verdadeiro José Pereira e nem o meu verdadeiro pai dizendo coisas. Seria o meu pai da minha mente falando o que o José Pereira teria dito. Enfim, mas seria o José Pereira da minha mente também. Resumindo... Sou eu apenas. Apenas eu de mim para mim mesmo. Mas como seria possível se mal sabia o significado da palavra? Outra, e este é o segundo ponto, o que seria isso de “é no presente que está a premência”? No presente que estaria a urgência? Não faz sentido... Então busquei refletir. Conclui que premência é o ato de premir ou premer... que seria o mesmo que apertar, espremer. Então, pensemos numa laranja. Se é laranja do passado, com lá aquelas das laranjeiras da casa da madrinha Lázara que eu gostava tanto. Até recordo o sabor. Se é laranja do futuro, da chácara que haverei de organizar, até imagino o dulçor. Agora, isso tudo é imaginação. O verdadeiro dulçor do caldo da laranja posso experimentar apenas no agora. Apenas nele posso “premer” a laranja que Luciana acabou de trazer da feira, para conhecer o sabor, o verdadeiro sabor. Então, o José Pereira está certo. Não devo sobrar imerso em suposições, pelo que já conheço. "É no presente que está a premência". Apenas neste grande agora posso e devo “apertar” o que me vem, para, com curiosidade de criança, mente limpa, verdadeiramente conhecer, e nisso devo me fiar. Agora, de onde me vem essa mensagem, sigo sem saber. De qualquer forma, agradeço ao José Pereira (que já não está mais entre nós), e ao meu pai.