Fui sem saber. Falaram em música e poesia. Como não
dar certo. Era 20/05/2016. Somei os números. Deu 7. Número sagrado, como dar
errado.
O ambiente era dourado e com cheiro especial. De
velas. Que alteavam castiçais dourados e douravam tudo.
O cantor era um. E também apenas um violão. Mas às
vezes se ouvia outras vozes e se sentia vários instrumentos, senão uma
orquestra inteira.
E não falo de efeitos gravados não. O show era
totalmente acústico. Falo da sensação de quem assistia.
A leveza da música e das falas, a voz potente e
macia do cantor, atingia aquele lugar da gente além dos muros, cercas de arames,
marimbondos, derretendo o que é ruim.
Às vezes parecia que que não era ele. Que era algo
que vinha através dele. Que teria o corpo possuído numa manifestação sobrenatural.
Ele seria mera marionete de vários seres. Lembrei-me de Poltergeist.
Senti-me numa sessão do Santo Daime, a religião das
matas, após o terceiro copo do suco do cipó. Até a afinação do violão pareceu
sobrenatural, num vai e vem acústico e elástico.
Teve momentos em que ele parou de cantar para ouvir
as pessoas cantando, de olhos fechados. Conexão de mentes.
Até as velas pareciam flutuar, como fossem bolhas de
sabão em forma de pingos de fogo. O escuro dourado, macio e confortável parecia
dentro da gente.
O ponto alto foi Paciência, de Lenine. Mas, além,
teve muita música boa. Muito autoral. No final, quando ele falou em “show com
música mística e poesia”, eu sorri.
Eu nem sabia disso de “mística”. Soube que era música
e poesia. E de fato ele nem precisava falar em mística, por que todos, de
qualquer forma, sentiriam de qualquer jeito, sem que falasse.
Fui sem saber. Me dei bem. Que presente do Padre Márcio.
Isso no salão paroquial da Igreja de Santa Tereza. O cantor, o Tom de Minas.
Místico. Toca a troca de sorrisos. À noite, estou falando sério, tive sonhos
dourados.
Parabéns, Tom, por levar suas canções e mensagens além
dos palcos. Soube que toca em asilos, em hospitais indo de leito em leito, para
populações carcerárias e de rua. Parabéns pela opção sua.
Alguém poderia pensar: um artista assim, por que o
Universo não conspira e não o joga nas alturas da Grande Mídia? Respondo. Quem
diz que isso é o melhor para ele e para o mundo? O Tom não parece preocupado com colher;
mas sim com plantar.