quarta-feira, 3 de novembro de 2010

O MENINO E A SERPENTE...


Lá vai o menino, com uma serpente no pescoço, caminhando, numa floresta hostil, onde as noites são mais escuras que a escuridão, e frias, feito à alma dos insensíveis.

Os dias, também são escuros, quase tanto quanto à noite, um pouco mais cálidos é bem verdade que se diga, mas não muito.

O pobre nunca saiu daquela floresta, a ingenuidade nela faz-se presente, criança, inocente, só quer coisas boas, brincar, fazer amigos, sorrir, comer mel... De regra nada disto acontece... É incompatível com aquele lugar traiçoeiro e agressivo.

No pescoço leva, enroscada, aquela horrenda serpente, não é sua amiga, muita vez o pica, mas crescer com ela, fez com que seu corpo se tornasse imune, aquele veneno não o mata, somente o faz sentir dor, muito dor.

Apesar da sua ingenuidade, o menino intui que a serpente o protege, não por que quer, mas somente pelo fato de estar emaranhada em seu pescoço faz com que o respeitem um pouco, temem-na, sem ela, ele não duraria nem cinco minutos.

Às vezes ele chora, comumente, quando ela dorme, pois se está acordada poderia irritar-se e o mordê-lo, e aquela dor é realmente terrível.

Às vezes ele tem inveja dos animais que vê, parecem ser tão felizes, pois não registram fatos passados e nem tem expectativa para o futuro, isso faz com que vivam cada momento, numa sensação linear, sem comparações com outras situações, assim, vivem em constante felicidade. Que inveja...

Uma linda borboleta azul o acompanha vez em quando, é sua amiga. Teme um pouco a serpente, que, não obstante a amizade com o menino, não tem a menor consideração por ela. Qualquer vacilo e ela dá seu bote, para feri-la ou mata-la, tanto faz.

A bruta da companheira do menininho, como ele, alimenta-se de umas frutinhas de duas grandes árvores, que ficam próximas de um lago, ao oriente, na parte um pouco mais clara da floresta.

A árvore mais nova dá um fruto maior, contudo um pouco mais ácido, e esta acidez às vezes irrita a serpente, não o menino.

A árvore mais velha dá frutos menores, porém, muitas vezes mais adocicados. Sendo estes, a única coisa em toda aquela floresta escura que é capaz de acalmar a aquela insensível. O menino a procura com mais freqüência.

Às vezes, ele se olha nas águas turvas do lago, se vê, como a imagem o deforma um pouco, se acha feio, pensa ser este o motivo porque é infeliz. Não entende porque a borboleta azul sente algum carinho por ele, pois, é tão feio, não merece tal sentimento nobre.

Ele já percebeu, que a borboleta azul traz em sua gualdrapa uma daquelas frutinhas doce, e quando a danada está meio atacada, joga aquele pingo de mel em sua garganta. Então a coisa-ruim acalma-se um pouco.

O pequenino tolo vive seus dias, na esperança de que encontre um lugar, onde possa sentir o calor do sol, onde a água cristalina desça calmamente, dançando entre as pedras brancas e redondas, onde os sabiás gorjeiem nas tardes de primavera, e uma brisa leve acaricie sua pele, neste dia, abandonara a serpente, ficará para trás, não haverá mais ameaça, então aqueles seus dias ficarão esquecidos, como um sonho ruim numa noite mal dormida... Pobre menino, sempre pensa que este lugar está atrás da próxima montanha... Que engano.

Lá vai um menino com uma serpente no pescoço, caminhando, numa floresta hostil.