domingo, 24 de agosto de 2014

pouco



Moço,
Não queira entender
O louco;
Pois para fazê-lo
Seu juízo
Também deve
Ser pouco.
No mínimo torto.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Nunca Ouvi Dizer



Ah, que tarde preguiçosa e de bobeira.  Fui tirar um cochilo. Um friozinho tão gostoso! Lá aninhado, Logo dormi. Veio-me uma moça. Era tão bonita e quente. Digo, em relação ao quente, as mãos... Para que já não pensem bobagem.  Comecei com conversa mole, bico doce que sou, logo cheio de dedos para cima dela. Comecei a falar-lhe bem baixo aos ouvidos, apenas para poder roçar-lhe os lábios às orelhas. Ela sorria. Sentia arrepios. Encolhia-se. Pedia distância, mas daquele jeito. Pedindo uma coisa, querendo outra. Dali a pouco, do nada, começou a me xingar. Não entendi nada. E xingava feio. Transformou-se. Não houve remédio.Tive que acordar. A fdp da vizinha xingava os dois filhos, como sempre faz, e o eco dos malditos xingos certamente entraram no meu sono e influenciaram a moça de mãos quentes. Que comportamento gera comportamento é clichê que todo mundo sabe.  E até pessoas em sonho influenciar depois pessoas vivas se tem notícia, pois às vezes os lá acontecidos determinam ações e decisões na vida real. Agora, alguém vivo que não o sonhador influenciar alguém que existe apenas em sonho, e em tempo real, é coisa que nunca ouvi dizer.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Coitado




Coitado do seu João,
Deixa muita saudade.
É mesmo, sempre tão
Voluntarioso e bom.
No final é verdade
Que vinha meio lento,
E o povo com ele
Tão sem paciência.
Certo dia de tão triste
Acho que chorou.
E por que será?
Ah, vai se saber.
O motivo com ele se foi.
Estão falando de quem?
Quem morreu?
Não, ninguém morreu,
Deus nos livre.
Falamos do seu João
Que se aposentou.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Fronteira


Existem porteiras inúmeras
Ao redor de mim,
E nenhuma convém que eu abra.
Melhor ficar aqui.
Se abro e lá vou,
Já não sei mais quem sou,
E meu mundo contaminado.
Sofrerei, então.
E em vão;
Devo ir
Até onde posso acrescentar.
Falar por cima da cerca,
Antes que me perca.



sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Mãe do Sol





Minha mãe chamou-me gritado
Eu quietinho, nem piscava
Chamou-me de novo, irritada

No pomar entre o doce das frutas
Eu via um sanhaço Mãe-do-Sol
De um vermelho que nunca vira igual

Já tinha ouvido falar dele
Mas pensei que não existisse
Como curupira e saci

Minha mãe recorreu ao papai
Disse que eu não lhe respondia
Que estava de gracinha

Papai veio pisando duro, bufando
Me achou, ralhou comigo
Beliscou-me torcido

Que pena. O Mãe-do-Sol se assustou
Repicou asinhas para longe, longe
Aaaah, eu suspirei fundo

Apenas depois do minuto de voo
Dei por mim ali no pomar
Apenas aí gritei: aaai

Soltei um grunhido
Massageei a pele beliscada
Fiz careta retorcida

Papai que já ia longe
Virou-se surpreso do meu retardo
Disse: eita moleque atrapalhado

Falei é o Mãe-do-sol pai
Olhos cheios d’água
Papai olhou, olhou. Não viu nada