Minha mãe chamou-me gritado
Eu quietinho, nem piscava
Chamou-me de novo, irritada
No pomar entre o doce das frutas
Eu via um sanhaço Mãe-do-Sol
De um vermelho que nunca vira igual
Já tinha ouvido falar dele
Mas pensei que não existisse
Como curupira e saci
Minha mãe recorreu ao papai
Disse que eu não lhe respondia
Que estava de gracinha
Papai veio pisando duro, bufando
Me achou, ralhou comigo
Beliscou-me torcido
Que pena. O Mãe-do-Sol se assustou
Repicou asinhas para longe, longe
Aaaah, eu suspirei fundo
Apenas depois do minuto de voo
Dei por mim ali no pomar
Apenas aí gritei: aaai
Soltei um grunhido
Massageei a pele beliscada
Fiz careta retorcida
Papai que já ia longe
Virou-se surpreso do meu retardo
Disse: eita moleque atrapalhado
Falei é o Mãe-do-sol pai
Olhos cheios d’água
Papai olhou, olhou. Não viu nada