quarta-feira, 25 de março de 2015

Leveza



O ódio é pequeno
Estraga tudo
É cego
E cabeçudo
Quero para mim
A leveza do
Tio Andrelino
Aos oitenta
E tantos e
Tão menino

segunda-feira, 23 de março de 2015

Dúvida


Será que boi
Gosta de goiaba
Pelo agrado
Do gosto;
                        
Ou goiaba que
Gosta de boi
Pela carona
No bucho;

Se vai goiaba
Em pança de boi
É certeza
Goiabeira;

Esparramadas
Pelas verdâncias
Da fazenda
Inteira.

quarta-feira, 18 de março de 2015

Sono do meio-dia



Ponteiros vacilantes
Em tique-taques
Amolecidos
Se distanciando
Mais e mais.
A música hipnótica
Desmonta o real
Pingando, pingando
Pesa-me pálpebras
A pressão dourada
Que me empurra
Dentro a fora
Uma dormífera
Sonolência
De meio-dia.
Ó Deus, se
Durmo agora
O que será
Dos meus sonhos
Da madrugada.
Sem eles
Não serei eu.

segunda-feira, 16 de março de 2015

FORMIGUINHA



Às vezes
Num segundo
Procedemo-nos errado
E naquele lugarzinho
Da gente onde
Isso ficou Registrado
Uma forminha
Finca ferrõezinhos
Entesourados
A turquesinha
Não é tão dolorida
Não tão apertada
Mas fica lá
Dia e noite
No mesmo estado
Até que fine
Esquecida,
Esfumaçada
Mas vai tempo
Pra ela morrer
E deixar
a gente
Sossegado

sexta-feira, 13 de março de 2015

Vazio



Domingo. Domingo à tarde na Praça de Santa Tereza. Pessoas. Pessoas. Buscam conteúdo aos seus vazios puxando cães e empurrando carrinhos de bebes. Superprotegem os filhos e tratam os cachorros como meninos.

Ó enganação, enganação. A Praça harmoniosa assopra nossos vazios, que combinam mais com aqueles pombos mortos, em face dos tantos eus mortos dentre de nós, que nem sabemos bem quem são, já que pioramos os maus e melhoramos os melhores. Assim vamos. Vamos. Até que tudo termine e nosso derradeiro eu fine.

Os cachorros uivam. Uivam ao longe. Curioso tantos cachorros uivando assim aqui em Santa Tereza. Os uivos parecem tristes, sim, tristes. Acho que sei por que. Estão com saudade da floresta. Não do bairro Floresta, mas sim da mata, da vida natural. Estão cansados de artificialismos, de show. Também estou.

Aquele vizinho que não me venha mais com aquele livro abaixo do braço. Sei muito bem que há algo errado com ele. Ninguém é assim tão bonzinho como parece ser. Tão conselheiro, resolvido.  Mentiroso, enganador. Se me vier de novo com conversa rala, quebro-lhe a cara.