segunda-feira, 29 de julho de 2013

Muito Dito Ficou Não Dito.

Estranho como tudo avança.
Ainda ontem nós tão crianças  
Íamos de mãos dadas por aí
Cheios de motivos pra sorrir
Ansiedade apenas pelo encontro
Eu contava horas e minutos
Ao lhe ver era a luz que eu via
Você sorria e sorria.
Eu não precisava de mais nada.
Você era minha namorada
Seu sorriso era-me paraíso
Confesso foi tão esquisito.
No nosso fim muito dito ficou não dito.
Mas como não há tempo
Dentro da gente
Às vezes, de repente,
Numa remexida no peito
Parece que ainda tenho o bamba preto
E que vou calçá-lo a pressa
Pra encontrá-la na praça.
Você me apertará com graça
Falará das minhas mãos tão quentes,
Se aconchegando ao meu peito
Eu adorarei o seu jeito,
Agradecendo as estrelas
Acharei a vida uma beleza.
Confesso foi tão esquisito.
No nosso fim muito dito ficou não dito.
Não há mais as idas à escola,
Fingindo acaso ao encontrá-la.
Idas a sorveteria da esquina
Bem próxima à sua casa
Pra fora da hora combinada,
Vê-la numa imagem furtada
Você me acenando sorrindo.
Ah, seus olhos negros. Lindos.
Eu não precisava de mais nada.
Pra mim apenas aquilo bastava.
Você quis mais. Muito mais.
Eu fiquei para traz.  Bem pra traz.
Foi amargo demais. Demais.
Foi...  Não mais. Não mais.
Mas...
Confesso foi esquisito.
Muito dito ficou não dito.

Bobão



Na escolinha que
tenho falado
Era dia de ditado
Mas seria custoso escrever
Naquele frio que estava
Blusa não adiantava
O que fazer?
A professora disse venha
Levou-nos ao fogão a lenha
Acendeu um fogaréu
Já foi preparando uma sopa
E entre uma história e outra
Ela nos aqueceu
Dizia que para uma pessoa
Era uma cenoura
Mas é para quatorze
Quantas usar
E assim matematicando
Ela ia nos ensinando
Sem a gente notar
Alguém quis saber
Como podia aquilo
De recreio antes da aula
Ela nos explicou
A significação
Da palavra exceção
Disse que quem não a percebe
E segue cegamente a regra
Não é dizer que é correto
Mas não passa de um bobão

Farinha



Minha mãe me mandou à cidade
Pra comprar pilha e farinha
Lá me ajuntei a uns moleques
Esqueci-me da vida
Quando já não vi mais o sol
Caramba, perturbei-me demais
Na venda a Ica entregou a pilha
E quis saber o que mais
Na hora pedir a farinha
Fiquei encabulado comigo
Não sabia se era de milho
Ou se farinha de trigo
Minha mãe ficaria muito brava
Se eu levasse a farinha errada
Naqueles tempos de caderneta
Comprei um quilo de cada
Cheguei em casa ressabiado
Com medo de apanhar
Minha mãe quis saber
Lá fui tentar eu explicar
Ela gargalhou chacoalhado
Você é como seu pai, voado
Eu pedi foi é pilha e linha
E que tomasse cuidado
Se ficasse lá muito enlevado
Ao chegar sentiria a varinha
(de marmeleiro)
Que exagero
Misturei linha
E varinha
E deu farinha
Tudo confusão minha

O Que Tem na Roça



O que tem na roça,
Nossa!
Me pegou agora,
Senhora.
Lá tem muito trabalho,
Tem sim.
Plantam feijão, arroz, milho,
E até capim.
Um viver ecologicamente
Adequado.
Homens de palavra
E honrados.
As comadres se rindo
De cabeça sacudida.
Uns causos que até
Deus duvida.
Agora,
Senhora,
Beleza, nem digo que tem.
Isso depende dos olhos
Que veem.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Do Que Abunda



No meu primeiro dia de aula,
Um dia tão claro,
Era escolinha de roça,
Nossa!
Recordo-me direitinho.
Íamos pelo caminho
Achando bonito
O jeito dos periquitos
Alegres demais,
Revoando arrozais.
O meu amigo,
Seguindo comigo,
Agitava-se tanto
Que sujou o boné branco
No chão empoeirado
Bateu-o de lado
Nem ligando pra isso
Só pensava nos escritos
Porém a aula foi pequena
Uma pena!
Foi só até o meio.
E a liberação no recreio
Frustrou o planejado,
Lanchar com a molecada.
Mas voltar com o lanche,
Era sem chance.
Então sozinhos
Devoramos bolinhos
Lá num canto
Eu e o de boné branco
Perto dos arrozais,
Acercados uma vez mais
Do verdor da passarada
Lá com suas céleres asas.
Repicadas tão contentes
Dando gosto na gente
Porém,
Veja bem,
Uma mulher que vinha
Pelo caminho
Vinha a sós
Sem dar por nós
Com olhos sentidos
Reparou, comovida
Achando estranho
O jeito tão tristonho
Dos pobrinhos
Dos verdes Passarinhos
Não há como negar
Oh, Meu Irmão.
Sempre vamos notar
Do que nos sobra ao coração

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Canarês


Que contentamento.
Eu e o meu primo,
Na casa de titia,
De longe consultando
A posição da arapuca
Na palhada fresquinha.

Ela desarmou.
Corremos tanto.
Pegou passarinho.
Era canário-da-terra.
Só brincamos com ele
Lá tão encolhidinho.

Meu primo lhe falou
Que medo danado,
Heim seu bobinho.
O coraçãozinho pulava
Meu primo debochava
Do treme-treme do bichinho

Mais tarde, outra vez
A arapuca desarmou.
Nova correria.
Meu primo ao desmazelo
Enfiou uma das mãos
Debaixo da armadilha

Naquela afoiteza
Ele nem consultou
O que lá havia
Mas era cobra
Cobra d’água sem veneno
Mas ele não sabia

E naquele desespero
Ele caiu no brejo.
A cobra já fugia.
Naquele treme-treme
Mudo no brejo
Deitado ele seguia.

Alteado num alecrim.
A meia distância
Divisei um passarinho.
E olhando bem para nós
Sem se espantar
Trilava o canarinho

Olhei bem, tive certeza.
Por uma pena arrepiada.
Era o que soltamos de pouquinho
E o jeito dele cantar
Era um tanto engraçado
Diverso do dia-a-dia.

Eu não sei canarês.
Mas se fosse pra apostar
Eu juro apostaria
Ele dizia ao meu primo
Que medo danado,
Heim seu bobinho.