segunda-feira, 23 de abril de 2018

do outro lado do espelho


manhãs frias
fogão a lenha
café quente
bolão de fubá
***
ah, era um tempo
sem pressa
sólido, eterno
seguro, descampado
**
eu crescia, crescia
não sabia
que um pouco
de mim já morria
*
ia para o céu
das lembranças
esfumadas
do outro
lado do espelho

sábado, 21 de abril de 2018

Não quero a equação


tem umas coisas que não entendo direito
aliás, muitas coisas eu não entendo direito
e tem que muitas coisas nem quero entender
não porque ame a ignorância mas é que na ausência
de razão tem um lado meu que decide as coisas
decide em outras bases, com outras referências
é um lado intuitivo, compreensivo, carinhoso
que convida, que aceita. Aceita não porque entende
aceita porque sabe das coisas atrapalhadas na mente
da gente impulsionando comportamentos e atitudes
sinto arrepio de morte com esses defensores
do jeito único com seus livros debaixo dos braços
liberdade tem a ver com sentir e não entender
às vezes o entender demais desbota o sentir
não quero a equação matemática da passarada
cantando debaixo do céu alaranjado da aurora
quando um irmãozinho fizer algo reprovável aos
olhos dos apontadores de dedo quero sentir por
ele uma ternura de formiga, de orvalho da manhã


sexta-feira, 6 de abril de 2018

aguardo

o passarinho
na gaiola
adormece na
esperança
de que no novo
dia voará

no novo dia
ele canta
percebe que
ainda não chegou
o momento
mas já sonha
com o dia
seguinte

ele vê homens
ouve gritos
mas prefere
ver flores
os pássaros
livres

assim pinta
seu dias
achando que a
justiça é
igual pra todos

sorte a dele
não perder o sono
assim não
vê os fantasmas
das escuridões