segunda-feira, 17 de maio de 2021

humanices

aquele simplinho 
com a família lá longe
no pé de serra

ele com ele mesmo
vive mais bonito
do que aqueleoutro
(só que não sabe)

os probleminhas dele
são tão miúdos
 
a galinha de pintinhos
a limpeza da mina
o cercado da horta
a bicheira da vaca
 gaivota
 
gosta da terra
dos passarinhos
escuta o vento
alegra-se com amanhã
com os canarinhos
 
aprecia isso do orvalho
molhar sem barulho
diverso da chuva
com sua barulheira
 
tem certa abundância
na vida dele
que falta lá
na daqueleoutro
 
abundância de espaços
que são perfumados
por coisas do céu
que acalmam e protegem
 
ele dorme bem
come bem
não tem dor
bebe água de mina
 
gosta de escutar a
rádio Aparecida
de ficar em volta 
de casa aos domingos
para brincar com 
os filhos
 
talvez eu não explique bem
mas a vida dele nem é
mesmo vida de explicação
e de palavras
é de sentimentos
 
a do outro não, coitado
todo empalavrado
e cheio de humanices
com toda sorte de
problemas inúteis
que isso traz
 
nem desconfia que vive
num mundo menor que
o simplinho de pé de serra
 
a vida do simplinho
é muito maior
um mundo com cheiro verde
e cobertura azul
 
aqueleoutro tem o
simplinho por meio louco
já o simplinho o respeita
sem inveja, lógico
 
até se encanta por
supor que alguém vive
mais feliz do que ele
 
mal sabe o simplinho
que apenas ele fala
a linguagem da vida
necessidades e sentimentos
o resto são humanices