terça-feira, 27 de setembro de 2016

DESCONSTRUÇÃO

Eu sei sentir
Pouco sei falar

Tudo que há vem
De uma fome
De uma sede

Existe um vácuo cinzento
Nas funduras do peito
Da gente
Que quer luz
Que quer gritar

A construção
É o esvaziamento disso

É o aprisionamento
Desse anseio
Desse desejo
Desse aterramento

A construção
É a desconstrução
Da inquietação
Que enquanto tremer
Seguirá no viço

Mas haverá a hora
Do abandonado
Do enfraquecimento
Da volta
Do pó

Um rádio
Um galo
Ruídos
Muito se repete
Nem percebemos

domingo, 11 de setembro de 2016

LÁPIS FEIO

Ao meu novo estojo
Fui deitando os lápis
Foi o amarelo
Foi o vermelho
Foram muitas cores

Tinha um, era cinza
Não quis coloca-lo lá
Não era dos grandes
Uma tinta tão feia
Sua casca descascada

E a madeira então
Nem era boa 
Nada macia, lascava
Ao ser apontada

Enfim, esse cinza
Ficou fora do estojo
Acabou de del em del
Em cima da cama
Sobre a cômoda
Entre coisas ao guarda-roupa

Numa tirada de algo
Junto veio o lápis cinza
Correu. Caiu
Foi-se ao chão
Nem liguei

Depois cheguei
Nisso ia escuro
Pisei no lápis
Ele correu. Rolou
Eu em cima
Que tombo fenomenal

Porcaria de lápis
Sem dó
Lancei-o as labaredas
Do fogão a lenha
Fiquei olhando
Gostei de vê-lo
Sendo aniquilado

(Como se a culpa fosse dele)
(Eu o excluí do estojo)
(Os meninos estão furtando aos sinais)