sexta-feira, 31 de julho de 2015

A VÓ QUE NÃO CONHECI


A minha vó Aurora, eu não conheci
Mas de tanto ouvir mamãe falar
Fiz imagem dela em minha mente
Nem foto dela nunca tinha visto
Há semanas vi foto de uma meninota
De uns 16 que dizem ser ela
Tentei encaixar a menina da foto
A Aurora da minha cabeça. Não deu muito certo
A minha vó Aurora mora numa casinha de barro
Rodeada de flores na sempre primavera
E com cheiro de bolo recém-saído do forno
Ela sempre está um pouco distante, numa biquinha
Ajoelhada e cantarolando, lavando roupas
O tio Aurélio sempre passa lhe avisando
Que tome cuidado, pois estão dizendo
Que há onças por perto. Coitada da vó
Para apenas para falar com o tio Aurélio
E comigo. Sempre lá, trabalhando na bica
E com medo de onça


VISITA



Eu brincava numa barranca
Com uns boizinhos brancos
Eram boizinhos de sabugos
Que puxavam um carrinho
De canoa de coqueiro
Com rodas de chuchu
Eu não estava sujo
Mas limpinho também não
Minha mãe me chamou
A tomar banho “imediatamente”
Achei estranho. Olhei para o céu
Um sol de meio dia lá arregalado
Mas por que mamãe
A comadre Lazara mandou avisar
Que o Luizinho e a Bernadethe
Passam aqui antes das dezessete
E não quero que pensem
Que só porque vivemos em roça
Vivemos sujos como porcos
Eu torci nariz. Mas logo me animei
Pensei: oba vai ter bolinho de chuva

quinta-feira, 30 de julho de 2015

O MENINO



Lá vai o menino
Pelo caminho
No passo a passo
Dos sapatinhos

É tal seu espírito
Que o toc, toc repetido
Incute-lhe ritmo
E então faz cantigas

Há nuvens no céu
E aves de rapinas
Mas apenas vê o azul
E ouve canarinhos

Aos novéis olhinhos
O futuro é avenida
Que supõe, inocente
Sem pedra nenhuma

quarta-feira, 29 de julho de 2015

VÉUS


Enquanto
Você falava
Eu pensava que
Deveria orar
Orar para que
Caíssem véus
Eu posso pensar
Que faço algo
Mas na verdade
Faço o oposto
Você pode pensar
Que faço algo
Mas pode
Não ser bem isso
Eu deveria orar
Para que eu
Entenda bem
O que faço
E você
O que recebe


MANJAR BRANCO


(Das comunicações não verbais
entre mãe e filho)

Na casa da Tiana
Do Zé do tio Lauro
Comi um manjar branco
Que sabor magnífico
Comi devagar
Raspei as migalhas
A Tiana quis saber
Se mais eu queria
Querer eu queria
Mas dizer não podia
Olhei para mamãe
Que sem falar respondeu
Diminuindo os olhos
Sinal de negação
Eu disse que não
Com cara de sim
A Tiana insistiu
Fui à mãe outra vez
Ela cresceu os olhos
Me abri em sorriso
Sim, aceito mais
Um pouquinho


terça-feira, 28 de julho de 2015

Só Beber Não Basta



Arrumei uma mulher safada
Dou-lhe mesmo uns tapas
Assim me sinto um pouco
Agente nessa vida cretina
Que só me bate, bate e bate
Ao que bordoo essa mulher
Juro me sinto um pouco vingado
Ela pode partir mas não vai
Gosta mesmo é de mim
Largou do marido
Para ficar comigo
Seu prazer é dormir
Nua em meus braços
Depois das minhas bordoadas
Nos amamos gostoso
Ela rebola geme e grita
Seu prazer é dormir
Nua em meus braços
Ela pode partir mas não vai
Preferiu ficar comigo
Vê fortes meus braços
Acreditando que lhe protegerão
Com mais forças do que lhe batem
Largou do marido que lhe dava flores
Via-o frouxo
Seu prazer é dormir
Nua em meus braços
Eu bebo, bebo e bebo mesmo
Mas só beber não me basta
Tenho mesmo é que bordoar
Essa mulher safada
Senão qual prazer
Nessa vida me resta