vamos levando...
domingo, 11 de fevereiro de 2024
Coisas da estrada
quarta-feira, 31 de janeiro de 2024
DISTÂNCIA
Disse que eu não era pra ela
“Será algo errado comigo?”
Pensei. Isso lá por 1985
Na semana passada, o reencontro
Ela me olhou novamente, olhou
Uns olhos de gata assustada
Eu não disse nada, nadinha
Ela também não
Decerto ainda pensou
Que não sou pra ela
Concordei
É SOBRE O CORDÃO VERMELHO
terça-feira, 30 de janeiro de 2024
INSÓLITO
por causa da sengracice dos dias
minhas criacionices eram mais com os lápis
de cor alegradores das minhas horas
amigos lá a gente tinha pouco
brinquedos praticamente nada
então era assim quase tudo invencionado
sei do meu traço de esquisitura
lá espiando passarinhos entre laranjeiras
chamavam me mentiroso por dizer que
entendia a linguagem das corruíras
é que o cheiro do orvalho
tinha poder de me passarinhar
e aí eu abria os ouvidos além
daqueles dois que todo mundo tem
tinha outra também
embora eu não confiasse aos outros
acontecia que eu gostava de
sentir o gosto das cores
e dos sons também
e dos sons eu ainda imaginava formas
era assim como formas dentro
de uma caixa dourada dentro do pensamento
com um buraco para gente despuxar as mãos
então pondo uma mão sem ver
eu sentia o macio o áspero o pontudo
o gelado tudo tudo em combinação
com o som tinha um apalpamento do som
fechava os olhos e vinha algo
era só esperar um tiquinho que vinha
como um quadro vivo cheio de cores
girando girando girando
como cores de energia
as figuras nunca se repetiam
outra vez diziam ser mentira minha
mas não era gente juro
era a língua de Deus e
assim Ele conversava
comigo com essas cores
em vórtices girando girando
quando eu fingia que uma caixeta era um barquinho
avançando num mar bravio em minha visualização
eu aventurava até ouvir os gritos de euforia e medo
das formigas tripulantes
fora do espaço/tempo não acesse vividos
por nossos ancestrais
nas cascas das árvores eu via mirabolâncias
as vezes até mostrava para os primos
era inútil ninguém via
eu até passava para o papel para verem
eu por mim não teria imaginacionice de desenhar
por exemplo uma briga daquelas de raposas
mas outra vez duvidavam de mim
eu tinha que combiná-los direitinho
o tanto certo de cada cor para o sol se revelar
por que aí eu revelaria seu segredo
mas dessegredo que nunca amontei direitinho esse sol
só me vieram sois falsos
eu pensava que as flores e as folhas eram borboletas
que para descansar se disfarçam de planta
num outono um vento desligou um bocado das folhas
da velha paineira lá a boca do abismo
eram canários pardos disfarçados
que reavivados saíram voando
eu vibrei
confesso que não avancei muito em minha maturidade
desde aqueles dias vejo muita coisa invertida
as pessoas vão saindo da infância e no automático
se adultecem sem perceber
de algum modo aos cinquenta eu ainda resisto
ainda prego coloridos ao canto dos pássaros
inequívoco que as vezes atino que eu seja louco
mas tem hora desconfio que loucos são os outros
pondo a culpa sempre em algo fora
sem atinar perseguem bolhas de sabão
até hoje não acho graça na realidade
que para mim na verdade não é realidade
é só uma coisa que enxergam igual
um sengracismo sem tanto hipnose
são canários pardos entre folhas secas
embora todos concordem ser folhas secas
gosto de prosear com vagabundos e loucos
honrando os traços de inutilidade que trago desde cedo
concordamos que não vale a pena perder
tempo com o passageiro
se o Manoel de Barros fosse um menino
contemporâneo meu lá na roça
é capaz que fôssemos amigos íntimos
Pintura: Reinaldo Lima
sexta-feira, 5 de janeiro de 2024
AGORA
AGORA
Chegou 2024. Chegou o ano que vem. Meu pai sempre falava (fala ainda), no ano que vem isso, no ano que vem aquilo. Nunca gostei. Risos.
HOJE. Deus está no agora. Se estou com a cabeça no passado ou no futuro, estou sem Deus. Ele está no agora. Ele é agora. É agora que os oceanos se movem. Que os peixes nadam. Que os pássaros voam. Agora.
A laranja do futuro será laranja se agora a seiva certa for enviada a flor, a luz adequada do sol envolvê-la, a vespa ou o vento fizerem seu trabalho de polinização.
O viço vivo está sempre no agora. A nosso compromisso (semeadura) deve ser com o agora. Então vamos firmes. O que chamamos “tempo do Senhor” trará o fruto maduro.
A questão é plantar e soltar. E não ficar na expectativa para o futuro, sobre quando virá. Não. A Glória está no agora onde o Pai é conosco e então temos tudo o que precisamos, enquanto as sementes espirituais operam.
Eu e o Pai somos um. Onde estou é Terra Santa. Devemos olhar agora sem as sombras do passado e sem as expectativas gasosas para o futuro.
Se me vem que devo estudar para no futuro melhorar minha remuneração. Não bem caso de futuro. Devo estudar agora. Devo me inscrever no vestibular agora. Devo me preparar agora.
É no agora que está o calor da vida, a força da mudança. A unção do Pai
Um 2024 cheio de agora para nós.
sexta-feira, 29 de dezembro de 2023
No Ano Novo, apenas sejamos.
O que é sempre foi e sempre será.
O que deixou de ser, nunca foi.
O Absoluta não se explica.
Se sente e pronto. É o que é.
O que nos levou a sentir pode ser descartado.
Não reside nada especial aí.
Não queiramos sistematizar, ensinar.
Nada é o que parece ser.
A Onda onipresente traz as energias
e direcionamentos necessários.
Essa Onda é o que é e sempre foi.
Não vejamos o que vemos,
Pois o que vemos é o que não é.
Se alcançarmos além, sentiremos o incognoscível.
Olhemos para dentro. Sintamos.
Não há nada fora que valha uma lágrima nossa.
Da floresta que desconhecemos
Somos influenciados pelas sombras,
sem saber que são sombras.
Quando reconhecemos algo,
pensamos extrair a árvore.
Sem cuidar que arrancamos apenas o visível.
Tanto tempo a árvore lá,
Impôs desdobramentos ao ecossistema.
No Ano Novo, firmemos compromisso
Com o sentir. Apenas sejamos.
sexta-feira, 9 de junho de 2023
herói da noite
papai foi a vila
preparou com capricho
o cavalo carrapicho
foi limpar arroz
comprar sal
linha e retrós
mamãe ficou comigo
já é noitinha
a lenha estrala em labaredas
e o feijão já cheira gostoso
mamãe de ouvidos abertos
busca pelo tropel do carrapicho
late o cão Rex
mamãe sente o peito apertado
um curiango pia longe
na mente de mamãe
farfalham preocupações
olha, escute o tropel
não, não acho que não
será será, será
mamãe abre a janela
espia lá fora
o vento faz tremer
a cortina de chita
é a chaminha da lamparina
mamãe se abraça se agita
é capaz que sejam bezerros
ou vento nas bananeiras
mamãe cresce os olhos
a lua já apareceu
e cadê o Tadeu
Ê Tadeu, ê Tadeu
deve estar de conversa
com o Zé Pereira
se deixar fica de prosa
a vida inteira
aí tropel outra vez
ou será o vento de novo
não... agora é mesmo
ela espia lá fora
sente o cheiro do roçado
no instante de dúvida
mas seu rosto se acende em riso
o tropel do carrapicho
enche a noite de ritmo
até que enfim
até que enfim
não gosto que seu pai
a noite por aí
Deus que livre e guarde
já pensou se cai
ela suspira
faz em nome do Pai
papai aparece
como um herói da noite
a longa capa cinza
cobre um corpo de homem
mas abaixo do chapéu escuro
vê-se o rosto
de menino tímido
papai lança sobre a mesa
um o pacote
sem dizer nada mamãe
se abre em riso
toda vez que vai a vila
papai trás para nós
um pacotinho com balas
mamãe adora essas balas
adora esse carinho
como beijinhos
açucarados
afoita ela desembrulha
a bala que lança a boca
com a língua vai rodando
a bolotinha açucarada
recebe nas balas
o beijo que meu pai não deu
contido por um jeito
tão antigo
na chaminha da lamparina
o menino vê um formato
de coração
domingo, 5 de fevereiro de 2023
Premência
domingo, 18 de dezembro de 2022
completude
acorda no outro o menino
não se cabe de alegria
corre pula rodopia
também meninos
e por todos poderem voar
havia se esquecido
e experimenta uma completude
de espantar
reconforta-se porque
em breve estarão lá
o mundo de cá por hora
parece manco
quarta-feira, 16 de novembro de 2022
nós
às vezes não gosto do
adolescente encabulado
que fui
porém conversei com
ele um dia desses
ele me ama me ama
acha bonito quem sou
comove-se comigo
admira-me
comovi-me também
pensando bem
só tenho a agradecê-lo
por não tem ficado lá
por haver me trazido perto
de onde estou
(muitos amigos ficaram lá
nem preciso dizer)
abracei-o
foi emocionante
disse-lhe que fez
um ótimo trabalho
quis saber dele
como poderia compensá-lo
depois de tanto bloqueio
ele disse investiu em mim
que deseja apenas que eu vá
que ainda tem muito a ser buscado
que estará comigo
que eu seja os sonhos dele
que eu valorize isso
que eu veja tudo quanto
já aconteceu
alertou-me que não gosta
quando me comporto como ele
que preciso me olhar
sentir que não sou mais ele
por fim disse
que eu seja livre
que eu seja leve
que nos leve
e que pare com essa de
querer ser impecável