Quando
a minha avó partiu, lá por 1979. Eu tinha 8 ou 9. Quanta gente na grande casa
verde ao redor da praça. Apenas filhos, 16. Imagine! O vô, os agregados, netos,
bisnetos, amigos. Um inédito sentimento corroído me mordia por dentro, gelado.
Uma prima mais velha gemeu: coitadinha! Gostava tanto da família, assim junta.
Agora, não está aqui ver. Espiei de longe o caixão. Não via muito sentido
naquela reunião. Todos ali pela vovó; mas ela não estava ali para ver. Eu disse
qualquer coisa. O tio Antônio Neco falou que as pessoas se reúnem pelos vivos.
Para se apoiarem mutuamente. Gostei daquilo. Senti se acender algo como um
cordão vermelho corrido de um calorzinho gostoso, que nos conectava a todos
ali, com fossemos apenas um. A vovó trabalhou tanto nisso. De algum jeito, era
ela vivinha ali. O gelado do meu peito recuou um pouco. Foi a primeira vez que
dormi tão tarde. Já devia ser mais de duas. Meu pai me levou para o banco de
trás de um fusquinha azul. Olhei para a praça vazia. O vento da alta hora fazia
tremer as arvorezinhas redondas ao redor coreto, numa solidão pontuda. Mas do
outro lado da rua, na grande casa verde, a solidão não era tanta. Ali havia
muitos, e podiam contar uns com os outros. Eu adormeci um pouco menos escurecido.
Se não nos sentimos sozinhos, a dor doe menos.
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