quinta-feira, 28 de outubro de 2021

lembrança

 era início de 1979 e o
o Carlinhos estava lá
na roça havia semanas
passava férias na casa do sogro
acho que foi a primeira vez
que li histórias em quadrinhos
o Carlinhos carregou para a roça
uma caixa com dezenas delas
eu amei as histórias e
também as imagens
numa delas os sobrinhos do pica-pau
que eram urbanos fugiram para mata
chegaram lá a noite e
dormiram num topo de árvore
no outro dia quando amanhecia
eles acordaram
viram que se encontravam
na parte alta da mata
a imagem que viram me extasiou
um vale todo de mata com muitos
pássaros em revoo e um sol novo
espiando aquilo tudo
fazendo brilhar o rio
senti-me como dentro da imagem
o que foi? o Carlinhos quis saber
vendo-me congelado
falei da imagem mostrei-lhe
ele sorriu um riso de irmão
disse como você viaja garoto
às vezes passávamos
horas tentando acertar
latas na ponta dos moirões
nos valendo de estilingue
no dia da mudança da minha
família para Cambuí o Carlinhos
esteve lá em casa ajudando
quando o caminhão do Josino
desceu o morro
o que fez bem devagar
pelo estado da estrada
o Carlinhos seguiu o caminhão
foi atrás nos acompanhando
na porteira da curva onde começa
as terras do Tio Dutra foi
o Carlinhos fechou a porteira
que já se encontrava aberta
dali para frente o Josino
acelerou um pouco
e o Carlinhos foi ficando ficando
antes que sumíssemos na curva
do bambuzal ainda olhei para ele
eu ia na carroceria
ele abanou a mão num adeus
aquilo me cortou o coração
estava tão bom ali e eu
partia para o desconhecido
fato é que fiquei com essa
imagem amiga do Carlinhos em
meu coração e me corta o peito
saber da partida precoce dele
gostaria de deixar meu abraço
de conforto aos familiares
e amigo

quarta-feira, 4 de agosto de 2021

o menino dos vários sois


prosearam à-toa na roça
daquela vez
que eu era meio abobado
que carecia de lombrigueiro
eu desescutei tudinho
não foi a primeira vez
que abriram essa
vejam se havia motivo
para me bocozarem
eu não era afeito a madrugadeios
até hoje não sou
mas me esplendorava
e ainda me esplendoreio
com a magnitude
do despor do sol
então, quando eu cedava
procurava distender
minha elegritude
sorvia o sol desnoitecer
por várias vezes
como?
lá entre montanhas
depois de ver a testa
do novo sol
trupicando em orvalhos
eu corria para a sombra
e então esperava o menino
sol me espiar outra vez
e assim refazia
por várias vezes
teve vez que vi
7 desdormir do sol
numa só manhã
por isso me constavam
como o menino abobado
dos várias sois
tem uma pecinha na cabeça
da gente que amarra
o faz de conta
a minha era frouxinha
e atino que seja ainda hoje

segunda-feira, 2 de agosto de 2021

EU

eu sou feito
de partes
dos vários
eus que fui
 
da criança
que vivia
buscando ver
o sanhaço
mãe-do-sol
 
do jovem
sonhador
que via
o melhor
dos outros
 
do senhor
ranzinza que
desconfia
até dos seus
melhores
sentimentos
 
sempre se
acrescentando
e se aterrando 
partes dos eus
ainda vivos
 

segunda-feira, 17 de maio de 2021

humanices

aquele simplinho 
com a família lá longe
no pé de serra

ele com ele mesmo
vive mais bonito
do que aqueleoutro
(só que não sabe)

os probleminhas dele
são tão miúdos
 
a galinha de pintinhos
a limpeza da mina
o cercado da horta
a bicheira da vaca
 gaivota
 
gosta da terra
dos passarinhos
escuta o vento
alegra-se com amanhã
com os canarinhos
 
aprecia isso do orvalho
molhar sem barulho
diverso da chuva
com sua barulheira
 
tem certa abundância
na vida dele
que falta lá
na daqueleoutro
 
abundância de espaços
que são perfumados
por coisas do céu
que acalmam e protegem
 
ele dorme bem
come bem
não tem dor
bebe água de mina
 
gosta de escutar a
rádio Aparecida
de ficar em volta 
de casa aos domingos
para brincar com 
os filhos
 
talvez eu não explique bem
mas a vida dele nem é
mesmo vida de explicação
e de palavras
é de sentimentos
 
a do outro não, coitado
todo empalavrado
e cheio de humanices
com toda sorte de
problemas inúteis
que isso traz
 
nem desconfia que vive
num mundo menor que
o simplinho de pé de serra
 
a vida do simplinho
é muito maior
um mundo com cheiro verde
e cobertura azul
 
aqueleoutro tem o
simplinho por meio louco
já o simplinho o respeita
sem inveja, lógico
 
até se encanta por
supor que alguém vive
mais feliz do que ele
 
mal sabe o simplinho
que apenas ele fala
a linguagem da vida
necessidades e sentimentos
o resto são humanices 

quarta-feira, 28 de abril de 2021

Meu Pequeno Sol

No quarto da minha infância tinha uma janela daquelas de tábuas e tramela. Era azul, azul-céu, trespassada pelo furinho de um pequeno nó de madeira que se soltara. Alcançava o tamanho de um grão de milho. Quem sabe até menos. Por ele vazava para dentro dos frios da noite (muita vez até assoviava) e, nas manhãs, escorria uma gotinha de sol. Um pedacinho do sol-do-mundo que se desprendia e por ali se enfronhava. Vinha colar à parede do meu quarto, fazendo-se meu pequeno sol particular. A bolinha de luz assemelhava-se ao sol-do-mundo por ser redonda, por surgir de manhã; mas tinha um distintivo. Diverso do sol-do-mundo, ela surgia alta no céu do meu quarto, no forro ripado, e conforme o sol-do-mundo ia subindo, o meu solzinho ia descendo. Encantava-me. Por ele eu tinha ideia das horas. Teve uma vez que o encanto do dia-a-dia alcançou o êxtase. Foi da vez que aconteceu eclipse no sol-do-mundo. Acreditam que o meu solzinho imitou o pai dele e se revelou em eclipse também? Sim. Podem pesquisar, para ver se não é assim. Meu queijinho de mel na parede, naquele dia, mostrou-se mordido, como que faltoso de um gomo. Corri contar para mamãe quando meu solzinho ainda mal passava pelo quadro de Santa Luzia. Saiba que quando a bolinha iluminava a região da face de Santa luzia era por volta de 07h30. Minha mãe veio conferir. Gostou. Foi uma manhã de alegria. Semanas depois veio uma de tristeza. Meu pai apareceu com venezianas metálicas. Disse que era mais bonito, mais moderno. Tirou a janela de tábua. Matou meu solzinho. Essa foi uma daquelas raras vezes em que discordei do meu pai. Não me conformo até hoje.

segunda-feira, 26 de abril de 2021

ANOS

quando nasci acho 
que algum anjo exagerou
em algum tempero

tenho muito de algumas coisas 
e pouco de outras

o que tenho de muito me põe tímido
muito pensante e embananado
para explicar


gosto quando entendem meus silêncios
mas geralmente não entendem
e se tento explicar falo falo
e pouco esclareço

as sensações me veem em enxame
por isso em frase é organizar
as abelhas em fila
custoso

fico até irritado quando compreendo
muito bem o que o outro diz
com seu silêncio

acho bonito quem fala bem
explica bem
isso me é outro mundo

além do dom de entender silêncios
acho que me veio boa capacidade
para intermediar
aprecio

assim vou pelas décadas
mais de cinco

cada dia menos
o que eu pensava
que seria

arrastando este meu eu 
que sobrou daqueles
outros que não 
prosperaram 

sábado, 24 de abril de 2021

para sempre a mesma história

e agora a Sônia 
me conta que 
o velho muro
de taipa não 
está mais lá

o velho muro
feito por escravos
entre a praça
e a cachoeira

ele me provocava
provocava
como será que era?
como será que era?

abaixo do que é
tem o que foi

e se um pouquinho
do que foi ainda é
devemos nos alegrar

é como ver viçosa
a roseira plantada
pela vovó falecida 
há décadas
Não haveremos
de cuidar?

memórias são flores
são mapas são rifles
podem perfumar ou 
estourar o nosso será

Deus que nos livre
dos que cultuam o 
deus da casca 
e do oco

eles têm um rifle
apontado contra 
a própria cabeça

condenam-nos  a 
ler para sempre
no mesmo livro
a mesma história

Prato favorito

Minha amiga
Indagou-me e
Então qual seu
Prato favorito

Eu disse chuchu
Daqueles verde-clarinhos
Novinhos e refogados

Ela sorriu
Cuidou que eu
Brincasse

Não sabe
Que o chuchu
É-me sabor  
Da infância
Na roça

Das risadas de
Mamãe zelando de
Suas flores

Acercada dos 
Canarinhos em seus 
Amarelos cantares

Do tio Otávio 
Em seu fusquinha
Como num 
Cometa azul

Da poeira doce
Dos primeiros 
Pingos

Dos pés descalços
Abraçados pelo 
Barro

Do menino na janela
Notando o Pico
Da Paz

Imaginando e 
Agradecendo a luta
De seus ancestrais

sábado, 17 de abril de 2021

Viagem

 

Perguntei para uma amiga o que viu de feio na viagem... e de esquisito... e do que mais não gostou... Ela ficou pensando... pensando... Parecia não encontrar resposta. Esse é o ponto. Quando viajamos nos sentimos fora do eixo. No dia-a-dia tendemos a nos impressionar mais com o feio, com o errado, com o que não está certo. Quando viajamos é o contrário. E se vivêssemos com espírito de viajantes?



quarta-feira, 7 de abril de 2021

Sei/não-sei

 

Quem não sabe, não sabe que não sabe; mas age como soubesse, e isso é muito triste. Eu receio avançar até onde não deveria. E mais... desguiado pelo meu não-saber, além de ir até onde não deveria, morro de medo de gritar, gritar e gritar, na defesa de minha ignorância. Posso até influenciar não-sabedores como eu. Os que sabem baterão uma mão à testa. Por generosidade pode ser até que me lancem algum sinal ou dica. Que possivelmente não entenderei, resistindo por vezes até agressivo no meu não-saber que acho é saber. Que vergonha! As explicações serão alienígenas para mim. Oh, Céus! Abra espaço em minha mente para que eu aceite saber mais, mesmo que doa. E principalmente, que quando eu evidenciar meu não-saber, que só tenham pena de mim. Jamais raiva. Que eu seja leve. Se quando sei já não devo me impor agressivamente, imagine quando não-sei. Essa viagem do saber ao não-saber é viagem para terra estrangeira. A condução não deverá ser feita por mim, porque serei capaz apenas de repisar no que já sei. O que não-sei é outro mundo, outra regra. Devo ser desmontado numa quebra de esfolar os ossos, para ser remontando de um outro jeito. De um jeito que eu desconhecia, preso à lógica bonita do meu saber. Tudo tão encaixadinho. Saber que pouco se sabe já é um bom começo. Que os Céus nos livrem das tolices.


segunda-feira, 5 de abril de 2021

Poema destes dias frios


Estes dias me devoram
Espetando dos

Seus galhos secos

 

Os grilos

Conversam, conversam

Uns falam em partir

Outros discordam

Não entram

Em acordo

 

O frio cutuca-me 

A costela

Numa dor

Sem Eva 

 

A fumaça

Dos escapamentos

Me faz pensar

Que neblina

Também é 

Poluição

 

Os sapos

No brejo

Como aguentam

O frio

Ou seria 

Coaxar de

Desespero

 

O sabiá 

Engoliu seu

Canto

 

Folhas voam misturadas 

à pássaros que não sabem 

se já vão ou se ficam

mais um pouco

 

E o menino

Tanto se 

Machuca

Por não 

Ver obstáculo


domingo, 14 de fevereiro de 2021

O QUINTAL DA TIA

 

A tia poderia olhar a rua
Conversar com transeuntes
Mas não
Ficava na varanda para o quintal
Um jeito distante um olhar parado
A montanha redonda ao fundo
Era coberta de árvores e puro viço
As quaresmeiras estouravam-se em flores
E a passarada cantava em grande alarido
Essa era a vista do quintal da tia
Mas ela parecia não ver
Tão preocupada com as daninhas
Dominando tudo segundo ela
Falava que era uma vergonha
Uma grande vergonha
Um quintal sujo daqueles
Que ia falar com os filhos
Isso enquanto tomávamos café
Coitada da tia logo ficou doente
Doente da mente perdeu o juízo
Um ano depois e já não me reconheceria
Parece que a doença
Chega primeiro aos olhos
da gente

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

Carta ao Jayme

Prezado Jayme. Como vai? E a família? Os meninos... a Raquel... Já 2021, hein! Esquisito. Cá vamos espremidos em dias lentos que demoram avançar; mas que depois que vão, deixam pouco. Quase como não houvessem existido. 2020 parece que mal começou. Tudo porque corre uma besta lá fora, primo, e os urubus rondam, rondam. Andamos tão necessitados de encontros presenciais, de aglomeração; mas nem careço dizer que por ora são inoportunos. Foi mesmo uma pena não acontecer a reunião anual de "di'diano" da Sabinada, agora no início de 2021. Quando nos reunimos no dia inaugural de 2020, quem diria que em 2021 seria diferente? A vida é mesmo assim, preciosa. Devemos valorar cada momento. Certo dia fazemos algo pela derradeira vez sem nos darmos conta. Sei que foi uma tristeza para cada Sabino ficar em sua casa, desvestido dos abraços, desenfeitado dos beijos, privado dos risos e goles que amiúde acontecem no explosivo encontro na casa da vó Eugélia. Desta vez não precisamos desenhar cruzes de sangue nos nossos portais, como daquela vez no Egito. Apenas permanecer em casa. E agradecidos. Triste mesmo, para quem ficou pelo caminho, para os familiares. Tem também a tristeza das pessoas se desentendendo. Esses momentos de medo revelam o obscuro em nós. Nas redes sociais, as pessoas gritam, gritam. Gritam para si mesmas. Sem espaço para o debate, para a escuta. Nossas ações tem um oculto que quer se esconder. Expectativas infantis que transmigram uma coisa em outra. Quero dizer que atrás de um ódio, de uma raiva, pode ver, há sempre um oculto que quer se disfarçar. Como diz uma amiga, todo exagero esconde uma falta. Uns criticam quem não sai de máscara. Outros criticam quem sai da máscara. Uns parecem gostar do caos. Que juízo! Outros parecem negar. Que doentio! E lá fora a besta corre e os urubus rondam. Quando eu era criança, eu era o mais novo de muitos primos. Eu vivia num sítio. Eles viviam as mais incríveis aventuras. Por ser menor, minha mãe vetava que eu os acompanhasse. Dizia que eu tinha que crescer primeiro. Era um tédio. Assim eu vivia a espera, na varanda, olhar perdido, notando as montanhas mais distantes, esperando o tempo passar. Agora revisito esse fastio, de espera até não sei quando. Mas os ventos hão de mudar, primo Jayme. Sempre mudam. Esperamos que a alegria volte. Agora é madrugada. Cantam os sabiás. Alaranja-se o horizonte. Já sinto o cheiro do novo dia. A besta aí fora passará, porque tudo passa. Esperamos que em 22 a Sabinada volte a se encontrar lá na Rua São Roque, perto da caixa d'água, com a volta do poder anestesiante dos abraços. Por enquanto, a nossa esperança vai numa agulhada. O meu abraço.


 

sábado, 16 de janeiro de 2021

incompletude

 

Vivi a infância na Fazenda da Paz. Quem é da cidade, cidade grandona, digo, imagina a fazenda um lugar parado, quieto. Nada. A Fazenda da Paz era barulhenta. Os barulhos vinham da natureza, dos bichos domésticos, do rádio da minha mãe, da máquina de costura dela, dos carros de boi sempre passando na estrada. Também havia várias casas próximas da nossa. Todas de meus tios. Meu tio Dutra gostava de conversar com meu pai, as tardinhas. Sempre se assentavam a barranca, próxima do ipê amarelo. Falavam do tempo, das plantações, dos planos. Eu gostava de ficar a volta deles. Tudo que falavam, eu ia imaginando. Eu ia ouvindo aos pedaços o que diziam. Se o tio falava, vou plantar uma roça grande de milho. Eu desligava meu escutador. Ficava pensando quanto seria esse grande da roça. Imaginava o vento ondulando um milharal lindo. Aí já ouvia o tio dizer que viria muita chuva. Eu matutava quanto seria muita chuva. Seria enchente capaz de cobrir o varjão? Já pensava no arrozal que viria depois, no varjão. Até ouvia o alarido dos periquitos, bicando arroz. Dali a pouco o tio falava que o sujeito devia ser boa gente, que vinha de longe, muito longe. Longe, longe. Longe onde? Eu pensava. Decerto Pouso Alegre ou Itajubá, imaginava. Quando o sol já se aninhava quase tudo nas montanhas, o tio despedia-se. Eu falava, volta amanhã, tio Dutra. Ele sorria. Ele sempre voltava. Saudade da simplicidade daqueles dias. No que a gente não sabia, a gente completava com coisas boas, porque, quase tudo que nos vem é incompleto.



domingo, 10 de janeiro de 2021

pigrizia

falar é lançar
ideias ao vento
feito dentes
de leão
 
para pássaros
vão almas de
árvores
 
para abelhas
fluem flores
voadoras
 

para o vento
são sorrisos de
perfumes
 
para os abutres
são apenas
comidas
 
que digerem
desmontam
e remontam

para depois
explodirem
telhados
com seus
dejetos
corrosivos

os abutres
pensam que
 brincam

não percebem 
que turbam o céu 
das boas colheitas

domingo, 3 de janeiro de 2021

Revolução

a flor é a rebeldia
da semente
que não aceitou
ser terra
quis a luz ao invés
de correr extrato
no bucho de
minhoca
forçou empurrou
contornou
pariu-se
o tempo
é o agora
o é
a galinha
que veio
do ovo
partejemos nossa
revolução

sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

Singelo

fiquei quase um ano sem vê-la, por causa da
pandemia. falo da minha sogra. agora estive
com ela, por uns dias. ao me despedir, eu lhe
disse, para provocá-la: dê-me uma abraço
apertado e um beijo! para provocá-la pq bem
sabemos que não vivemos dias para abraços e
beijos, principalmente por ela já haver
passado dos oitenta. mas ela abriu os
braços sem vacilar. uns olhos de criança,
generosos, puros. achei que ela iria me
dizer: sai fora, seo mala. pq saiba que
sempre brincamos muito. mas não, ela não
titubeou, abriu os braços. alguma coisa em 
mim ficou sem chão e eu não soube bem
onde pousar. surpreso eu disse vamos ter
juízo. abracei-a meio de lado, saí sorrindo
parti. mas o olhar seguiu comigo. por vários
dias e ainda agora me dizendo mais do que 
eu esperava. uma singeleza de comover
que em 2021 tenhamos olhar para o singelo
por mais que o mundo desestimule.