quinta-feira, 28 de outubro de 2021
lembrança
quarta-feira, 4 de agosto de 2021
o menino dos vários sois
segunda-feira, 2 de agosto de 2021
EU
de partes
dos vários
eus que fui
da criança
que vivia
buscando ver
o sanhaço
mãe-do-sol
do jovem
sonhador
que via
o melhor
dos outros
do senhor
ranzinza que
desconfia
até dos seus
melhores
sentimentos
sempre se
acrescentando
e se aterrando
segunda-feira, 17 de maio de 2021
humanices
ele com ele mesmo
vive mais bonito
do que aqueleoutro
(só que não sabe)
são tão miúdos
a limpeza da mina
o cercado da horta
a bicheira da vaca
gaivota
dos passarinhos
escuta o vento
alegra-se com amanhã
molhar sem barulho
diverso da chuva
com sua barulheira
na vida dele
que falta lá
na daqueleoutro
que são perfumados
por coisas do céu
que acalmam e protegem
come bem
não tem dor
bebe água de mina
rádio Aparecida
de casa aos domingos
para brincar com
mas a vida dele nem é
mesmo vida de explicação
e de palavras
é de sentimentos
todo empalavrado
e cheio de humanices
com toda sorte de
problemas inúteis
que isso traz
num mundo menor que
o simplinho de pé de serra
é muito maior
um mundo com cheiro verde
e cobertura azul
simplinho por meio louco
já o simplinho o respeita
sem inveja, lógico
supor que alguém vive
mais feliz do que ele
que apenas ele fala
a linguagem da vida
necessidades e sentimentos
o resto são humanices
quarta-feira, 28 de abril de 2021
Meu Pequeno Sol
segunda-feira, 26 de abril de 2021
ANOS
tenho muito de algumas coisas
e pouco de outras
muito pensante e embananado
para explicar
mas geralmente não entendem
e se tento explicar falo falo
e pouco esclareço
por isso em frase é organizar
as abelhas em fila
custoso
muito bem o que o outro diz
com seu silêncio
explica bem
isso me é outro mundo
além do dom de entender silêncios
acho que me veio boa capacidade
para intermediar
aprecio
cada dia menos
o que eu pensava
que seria
arrastando este meu eu
que sobrou daqueles
outros que não
prosperaram
sábado, 24 de abril de 2021
para sempre a mesma história
Prato favorito
sábado, 17 de abril de 2021
Viagem
Perguntei para uma amiga o que viu de feio na viagem... e de esquisito... e do que mais não gostou... Ela ficou pensando... pensando... Parecia não encontrar resposta. Esse é o ponto. Quando viajamos nos sentimos fora do eixo. No dia-a-dia tendemos a nos impressionar mais com o feio, com o errado, com o que não está certo. Quando viajamos é o contrário. E se vivêssemos com espírito de viajantes?
quarta-feira, 7 de abril de 2021
Sei/não-sei
Quem não sabe, não sabe que não sabe; mas age como soubesse, e isso é muito triste. Eu receio avançar até onde não deveria. E mais... desguiado pelo meu não-saber, além de ir até onde não deveria, morro de medo de gritar, gritar e gritar, na defesa de minha ignorância. Posso até influenciar não-sabedores como eu. Os que sabem baterão uma mão à testa. Por generosidade pode ser até que me lancem algum sinal ou dica. Que possivelmente não entenderei, resistindo por vezes até agressivo no meu não-saber que acho é saber. Que vergonha! As explicações serão alienígenas para mim. Oh, Céus! Abra espaço em minha mente para que eu aceite saber mais, mesmo que doa. E principalmente, que quando eu evidenciar meu não-saber, que só tenham pena de mim. Jamais raiva. Que eu seja leve. Se quando sei já não devo me impor agressivamente, imagine quando não-sei. Essa viagem do saber ao não-saber é viagem para terra estrangeira. A condução não deverá ser feita por mim, porque serei capaz apenas de repisar no que já sei. O que não-sei é outro mundo, outra regra. Devo ser desmontado numa quebra de esfolar os ossos, para ser remontando de um outro jeito. De um jeito que eu desconhecia, preso à lógica bonita do meu saber. Tudo tão encaixadinho. Saber que pouco se sabe já é um bom começo. Que os Céus nos livrem das tolices.
segunda-feira, 5 de abril de 2021
Poema destes dias frios
Seus galhos secos
Os grilos
Conversam, conversam
Uns falam em partir
Outros discordam
Não entram
Em acordo
O frio cutuca-me
A costela
Numa dor
Sem Eva
A fumaça
Dos escapamentos
Me faz pensar
Que neblina
Também é
Poluição
Os sapos
No brejo
Como aguentam
O frio
Ou seria
Coaxar de
Desespero
O sabiá
Engoliu seu
Canto
Folhas voam misturadas
à pássaros que não sabem
se já vão ou se ficam
mais um pouco
E o menino
Tanto se
Machuca
Por não
Ver obstáculo
domingo, 14 de fevereiro de 2021
O QUINTAL DA TIA
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021
Carta ao Jayme
Prezado Jayme. Como vai? E a família? Os meninos... a Raquel... Já 2021, hein! Esquisito. Cá vamos espremidos em dias lentos que demoram avançar; mas que depois que vão, deixam pouco. Quase como não houvessem existido. 2020 parece que mal começou. Tudo porque corre uma besta lá fora, primo, e os urubus rondam, rondam. Andamos tão necessitados de encontros presenciais, de aglomeração; mas nem careço dizer que por ora são inoportunos. Foi mesmo uma pena não acontecer a reunião anual de "di'diano" da Sabinada, agora no início de 2021. Quando nos reunimos no dia inaugural de 2020, quem diria que em 2021 seria diferente? A vida é mesmo assim, preciosa. Devemos valorar cada momento. Certo dia fazemos algo pela derradeira vez sem nos darmos conta. Sei que foi uma tristeza para cada Sabino ficar em sua casa, desvestido dos abraços, desenfeitado dos beijos, privado dos risos e goles que amiúde acontecem no explosivo encontro na casa da vó Eugélia. Desta vez não precisamos desenhar cruzes de sangue nos nossos portais, como daquela vez no Egito. Apenas permanecer em casa. E agradecidos. Triste mesmo, para quem ficou pelo caminho, para os familiares. Tem também a tristeza das pessoas se desentendendo. Esses momentos de medo revelam o obscuro em nós. Nas redes sociais, as pessoas gritam, gritam. Gritam para si mesmas. Sem espaço para o debate, para a escuta. Nossas ações tem um oculto que quer se esconder. Expectativas infantis que transmigram uma coisa em outra. Quero dizer que atrás de um ódio, de uma raiva, pode ver, há sempre um oculto que quer se disfarçar. Como diz uma amiga, todo exagero esconde uma falta. Uns criticam quem não sai de máscara. Outros criticam quem sai da máscara. Uns parecem gostar do caos. Que juízo! Outros parecem negar. Que doentio! E lá fora a besta corre e os urubus rondam. Quando eu era criança, eu era o mais novo de muitos primos. Eu vivia num sítio. Eles viviam as mais incríveis aventuras. Por ser menor, minha mãe vetava que eu os acompanhasse. Dizia que eu tinha que crescer primeiro. Era um tédio. Assim eu vivia a espera, na varanda, olhar perdido, notando as montanhas mais distantes, esperando o tempo passar. Agora revisito esse fastio, de espera até não sei quando. Mas os ventos hão de mudar, primo Jayme. Sempre mudam. Esperamos que a alegria volte. Agora é madrugada. Cantam os sabiás. Alaranja-se o horizonte. Já sinto o cheiro do novo dia. A besta aí fora passará, porque tudo passa. Esperamos que em 22 a Sabinada volte a se encontrar lá na Rua São Roque, perto da caixa d'água, com a volta do poder anestesiante dos abraços. Por enquanto, a nossa esperança vai numa agulhada. O meu abraço.
sábado, 16 de janeiro de 2021
incompletude
Vivi a infância na Fazenda da Paz. Quem é da cidade, cidade grandona, digo, imagina a fazenda um lugar parado, quieto. Nada. A Fazenda da Paz era barulhenta. Os barulhos vinham da natureza, dos bichos domésticos, do rádio da minha mãe, da máquina de costura dela, dos carros de boi sempre passando na estrada. Também havia várias casas próximas da nossa. Todas de meus tios. Meu tio Dutra gostava de conversar com meu pai, as tardinhas. Sempre se assentavam a barranca, próxima do ipê amarelo. Falavam do tempo, das plantações, dos planos. Eu gostava de ficar a volta deles. Tudo que falavam, eu ia imaginando. Eu ia ouvindo aos pedaços o que diziam. Se o tio falava, vou plantar uma roça grande de milho. Eu desligava meu escutador. Ficava pensando quanto seria esse grande da roça. Imaginava o vento ondulando um milharal lindo. Aí já ouvia o tio dizer que viria muita chuva. Eu matutava quanto seria muita chuva. Seria enchente capaz de cobrir o varjão? Já pensava no arrozal que viria depois, no varjão. Até ouvia o alarido dos periquitos, bicando arroz. Dali a pouco o tio falava que o sujeito devia ser boa gente, que vinha de longe, muito longe. Longe, longe. Longe onde? Eu pensava. Decerto Pouso Alegre ou Itajubá, imaginava. Quando o sol já se aninhava quase tudo nas montanhas, o tio despedia-se. Eu falava, volta amanhã, tio Dutra. Ele sorria. Ele sempre voltava. Saudade da simplicidade daqueles dias. No que a gente não sabia, a gente completava com coisas boas, porque, quase tudo que nos vem é incompleto.
domingo, 10 de janeiro de 2021
pigrizia
falar é lançar
ideias ao vento
feito dentes
de leão
vão almas de
árvores
fluem flores
voadoras
para o vento
são sorrisos de
perfumes
são apenas
comidas
desmontam
e remontam
para depois
explodirem
telhados
com seus
dejetos
corrosivos
pensam que
domingo, 3 de janeiro de 2021
Revolução
sexta-feira, 1 de janeiro de 2021
Singelo
fiquei quase um ano sem vê-la, por causa dapandemia. falo da minha sogra. agora estivecom ela, por uns dias. ao me despedir, eu lhedisse, para provocá-la: dê-me uma abraçoapertado e um beijo! para provocá-la pq bemsabemos que não vivemos dias para abraços ebeijos, principalmente por ela já haverpassado dos oitenta. mas ela abriu os
braços sem vacilar. uns olhos de criança,generosos, puros. achei que ela iria medizer: sai fora, seo mala. pq saiba quesempre brincamos muito. mas não, ela nãotitubeou, abriu os braços. alguma coisa emmim ficou sem chão e eu não soube bemonde pousar. surpreso eu disse vamos terjuízo. abracei-a meio de lado, saí sorrindoparti. mas o olhar seguiu comigo. por váriosdias e ainda agora me dizendo mais do queeu esperava. uma singeleza de comover
que em 2021 tenhamos olhar para o singelo
por mais que o mundo desestimule.