sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Mãe do Sol





Minha mãe chamou-me gritado
Eu quietinho, nem piscava
Chamou-me de novo, irritada

No pomar entre o doce das frutas
Eu via um sanhaço Mãe-do-Sol
De um vermelho que nunca vira igual

Já tinha ouvido falar dele
Mas pensei que não existisse
Como curupira e saci

Minha mãe recorreu ao papai
Disse que eu não lhe respondia
Que estava de gracinha

Papai veio pisando duro, bufando
Me achou, ralhou comigo
Beliscou-me torcido

Que pena. O Mãe-do-Sol se assustou
Repicou asinhas para longe, longe
Aaaah, eu suspirei fundo

Apenas depois do minuto de voo
Dei por mim ali no pomar
Apenas aí gritei: aaai

Soltei um grunhido
Massageei a pele beliscada
Fiz careta retorcida

Papai que já ia longe
Virou-se surpreso do meu retardo
Disse: eita moleque atrapalhado

Falei é o Mãe-do-sol pai
Olhos cheios d’água
Papai olhou, olhou. Não viu nada
 

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