domingo, 21 de junho de 2015

MORTO EM BOTELHOS



A cerração punha suadas vidraças e paredes
E caiam vaporosas as luzes dos postes
4 de junho. Noite. Cidade turva. Deserta
Na escorregadia Maj. Antônio A Fernandes
Eu avançava. O vento polia-me o rosto e
O jeito londrino acendia-me cheiro de morte
Mesmo com o frio me beliscando o osso
Sério, naquela quinta supus-me morto
A umidade decerto dilata-me o cérebro
Pensei. Sigo. Adiante, um bar lotado
Agradado entrei. Quis o ardor do álcool
Mas logo encabulei outra vez. Pensei bem
Um bar daqueles, Botelhos não tem
E aquilo de eu não conhecer ninguém?
Como em Botelhos clima e bar londrino?
Espiei a rua. O que estava acontecendo
Pareceu-me flutuante um jipe velho
Era de vez a sensação de cemitério
O álcool poder-me-ia agravar quadro
Pensei bem. Melhor partir. Dormir
Passei por um homem de rosto escondido
O cigarro fazia desenhos angulosos, esquisitos
De repente a brasa me pareceu olhinho do mal
Corri para casa, mas logo estrondo no quintal
Fui ver. A porta gemeu lambida pelo vento
Nada de balde caído. Tudo fantasmagórico
Como flecha, um gato não preto. Esquelético
As cortinas arranhavam paredes de jeito intenso
Recordei o homem do cigarro. Podia ser o demônio
Decerto ali voltava em forma de gato castanho
Credo. Mas que depressa quis o quarto de novo
Na volta, tateando ar, arrastando pés, um salto
No corredor gelado trombo com a Luciana
Celular mal iluminando o rosto, imagem tremida
Daquele jeito mirando a luz de baixo para cima
Ainda fez um buh mudo, uma mão tremendo no ar
Gelei. Vou lhe falar, amigo.  Medo foi pouco
Foi por um instante a certeza de estar morto

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