quinta-feira, 7 de março de 2013

Feliz


Cedinho eu saía. Benção, mãe. Café com leite tomado na canequinha ganhada da madrinha. Gosto do bolo de fubá ainda pregado nos beiços. Pés descalços no chão macio e gelado. Passagem ligeira pelo curral. Não falava nada. Nem benção. Meu pai dizia que a vaca recolhe o leite. Escutava o barulho ritmado do leite estourando espumante no balde. As folhas de capim-gordura iam benzendo as minhas canelas. Um mar todo roxinho. Eita, capim mais bonito e cheiroso. Perturbava um tiziu naqueles seus pulos volteados. Jogava uma pedra nele. Jogava mole. Jogava para errar. Já no milharal ia raspando bem de mansinho a enxada na terra. Chão tão molinho. O cheiro daquele revirado úmido pelo orvalho era indescritível. Sábado. Começando assim tão cedo, mal posto o sol e já poderia ir a Capela. Eu era feliz. E mais feliz eu era por supor que quando crescesse me mudaria para a cidade grande e então seria ainda mais feliz.

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