Eu caminhava com o seu Bastião. Ia à sua casa dele campear uns
tomatinhos selvagens no quintal pra minha mãe. O seu Bastião era estranho. Meio quietão. Olhava pra parte baixa (velha)
do bairro, parece que meio amolado da vida. Ao que passávamos bem defronte há um
casarão desmoronando, casarão daqueles que a gente vê que foi feito com esmero por
quem tinha dinheiro, eu disse, com o dedo indicando a casa velha: “seu Bastião. Não sei por quê. Mas essas
casas velhas me atraem. Parece que sinto certa dor dolorida. Uma saudade engasgada
de algo que nem vivi. Fico pensando nas ideias, nas expectativas das pessoas que
as construíram pensando ser pra sempre”. Eu era molecote de quatorze para quinze anos.
O seu Bastião, sem parar de caminhar,
disse: “Veludo, deixa esses entulhos, seu cão bobo”. Veludo era o cão dele que
nos acompanhava. Depois ele me falou: “moleque, larga de bestância. Olha aí do
lado da casa velha uma novinha sendo feita. Por que foi olhar bem na velha? Uai
sô! É nessa nova que tem de olhar. A pessoa tem que viver no seu tempo”.
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