segunda-feira, 4 de março de 2013

Casarão Velho


Eu caminhava com o seu Bastião. Ia à sua casa dele campear uns tomatinhos selvagens no quintal pra minha mãe. O seu Bastião era estranho. Meio quietão. Olhava pra parte baixa (velha) do bairro, parece que meio amolado da vida. Ao que passávamos bem defronte há um casarão desmoronando, casarão daqueles que a gente vê que foi feito com esmero por quem tinha dinheiro, eu disse, com o dedo indicando a casa velha: “seu Bastião. Não sei por quê. Mas essas casas velhas me atraem. Parece que sinto certa dor dolorida. Uma saudade engasgada de algo que nem vivi. Fico pensando nas ideias, nas expectativas das pessoas que as construíram pensando ser pra sempre”.  Eu era molecote de quatorze para quinze anos. O seu Bastião, sem parar de caminhar, disse: “Veludo, deixa esses entulhos, seu cão bobo”. Veludo era o cão dele que nos acompanhava. Depois ele me falou: “moleque, larga de bestância. Olha aí do lado da casa velha uma novinha sendo feita. Por que foi olhar bem na velha? Uai sô! É nessa nova que tem de olhar. A pessoa tem que viver no seu tempo”.

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