domingo, 22 de novembro de 2015

Margô


Essa minha vizinha do andar de cima, não sei não. Cara de boazinha. Sempre com sorriso no rosto. Mas não falo de riso debochado, não. Falo daqueles de quem se faz de bonzinho. “De quem se faz” porque não acredito seja boazinha do jeito que parece. Ninguém é assim, gente. O tempo todo. Sempre, sempre. Impossível. A não ser que seja caso de boboalegrismo exacerbado, como diria o Pastor. Apesar de que de boba ela não tem nada. Por acaso não ouço a gemedeira às madrugadas? Sei bem como é a atuação dela na cama. É trabalho de quenga, gente. Coisa profissional. E pelos ruídos, que vou acompanhando com ouvidos abertos, acho que trabalham em diversos cômodos da casa. Inclusive, chão. Não é coisa de gente decente de forma alguma. Parece que ouço até tapas. Credo. E teve um dia que acho até que o marido não estava e eu ouvi a gemedeira do mesmo jeito. Tenho quase certeza. Mulherzinha dissimulada. Eu já pelejei com a moça do salão para me contar se ela (a minha vizinha) também se depila tudo. Falo lá de baixo. Tá entendendo, né. Fica com aqueles saiões de falsa pudica. Deve ser carequinha lá embaixo. Dá-me até febre o ódio que tenho dela. O marido deve ser um belo de um corno. Às vezes até penso em lhe abrir os olhos, mas receio que me entenda mal. Aliás, ele é bem bonitão. Torço para que descubra tudo e dê logo pé no traseiro da rameira. Falsa, imoral. Não tô desejando mal, não. Tô desejando bem. Se quero o bem dos outros, quero também o bem dele, que parece bom homem. Assim, que descubra que a mulher não é quem aparenta. Um dia ela tropeçou na saída do prédio e tentou se segurar em mim. Eu fazendo que não percebi tirei o corpo. Deus que me perdoe. Quis mesmo que se esborrachasse no chão. Mas não. O diabo deve tê-la ajudado. Não tinha como não cair; mas não caiu. E no que tentei tirar o corpo acabei eu virando um pé. Vejam só. Fui eu quem se machucou. Deve ter sido também o diabo, por odiar quem é de Deus. Tudo por causa da marafona. Loira falsa. Eu não quero que me ache invejosa, não. É que odeio falsidade. As vizinhas amam conversar com a sujeita. Já comigo nem falam direito. Não passam de frios bons-dias e boas-tardes. Caras amarradas. Já com ela são conversas longas, cheias de risadas. Vadias. São todas vadias. Decerto falam como enganam seus maridos. Decerto debocham deles. Ah, vou parando por aqui. Esse assunto me deixa doente. Agora vou sair. Tenho que aproveitar o horário da tarde, que é quando meu marido está trabalhando.



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