segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

2016



Gostei da conversa das duas. Ao que passei já se falavam,
Enquanto varriam. Uma dizia a outra que tivesse fé, que
Tudo acabaria bem. No ano novo seria vida nova.

A que ouvia parecia importar-se com o conceito da que falava,
E a conversa lhe era positiva. A que falava virou de assunto,
Parece caçando espantar algum aborrecimento da outra.

Quis saber como ficou a receita de panetone. A que ouvia iluminou-se.
Disse que o neto gostou muito. Diante do que seriam suas casas varriam
A calçada coberta de florezinhas amarelas das árvores de uma das ruas de Santa Tereza.

Duas casas tão parecidas. Casas daquele tipo antigo, com vô e vó,
Papelzinho da novena de Natal à porta.
Lembrei-me de tanta gente ali. Eram do tipo vovozinhas, cabelos brancos.

Da rua chegou um senhor com cabelos repartidos ao meio.
Grisalhos também. Deteve-se por um segundo congelando o olhar
Numa Brasília branca estacionada um pouco adiante que era um luxo.

Depois se descongelou. Abanou uma mão às duas. Elas sorriram
Cordialmente. Feliz 2016, ele ainda disse. Feliz 2016 para todos nós,
Uma das duas respondeu. Decerto era marido da que não respondeu, pensei.

Quase confirmação tive em seguida. O sujeito entrou
Numa das casas e foi logo seguido da que seria esposa, que entrou
Ligeiro dizendo que o bolo de fubá já devia estar quase queimando.

Ao que ela disse a derradeira palavra eu já não mais a via,
Tamanha a pressa com que afundou a sua casa. Apenas então dei pelo
Cheiro do bolo, cheiro de antigamente.

Decerto o cheiro do bolo há tempos já me Influenciava ali
Na leitura do que eu via e sugeria preenchimento às lacunas do
Que eu não sabia. E eu nem percebendo.

Nossa interpretação do presente é mesmo cheia de passado
E geralmente nem damos conta.  De repente dei pela que varria,
Agora sozinha, encarando-me desconfiada.

Fiquei sem graça. Abanei uma mão. Feliz 2016 para a senhora, eu disse.
Feliz 2016, ele respondeu com má vontade. Ato contínuo já entrando
Em sua casa fazendo ranger um portãozinho, vassoura em punho.

Pelo histórico do que conhecia decerto interpretou-me da pior maneira
Possível. Um malandro rondando o bairro. Ao que fui Andando, pensei.
Que em 2016 o passado nos seja ouro, influenciando-nos apenas positivamente.

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