Minha mãe quis saber por que eu
gostava tanto de ir à casa da madrinha. Eu não sabia. Pensei bem. Gostava de
ver a foto do tio Luiz com a tia Bernadete. Pareciam gentes das revistas,
sempre felizes. Do galinho de louça de lado. Do jeito que o padrinho falava com
a madrinha, tipo amor platônico. De como a madrinha cuidava do Lelinho. De
notar a lindeza dos tijolos da casa sem reboco, olhava-os como fossem botões
capazes de me transportar para outro mundo. De ver as brincadeiras do cachorro
Jaú com o cavalinho Quito. Da visão desafogada do vale lá do alpendre. Dos canários
fazendo folia na vargem da usina. Da pedra redonda na curva de onde se ouvia o
corguinho cantando. “Não sei, mãe”. Enfim respondi. Na verdade eu não sabia bem
porque gostava tanto (e até hoje não sei). Toda resposta me pareceu vaga. Sabia
que lá me enchia de um sossego inexplicável. “A senhora, mãe, é grande e vai
saber me ajudar a entender. Por que gosto tanto?”. Ainda lancei. Ela ficou
pensativa. Surpresa por ter que responder a pergunta que ela mesma fez. “A
liberdade que você tem lá, cada minuto, é como fossem sementes. Sementes de
fantasia, revirando e crescendo aí na sua cabecinha avoada”. Ela disse depois
de pensar um pouco. “Semente de fantasia”. Repeti mentalmente. Gostei.
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