segunda-feira, 8 de julho de 2019

Para Sempre

Na cozinha da minha mente tem um fogãozinho
Fogãozinho à lenha, daqueles de vermelhão, simplinho
Principalmente nas noites que tardo dormir
Gosto de ficar ali, avivo o fogo, abanco-me
Recordo velhas histórias e tomo café que
enche uma represa
Se está muito frio jogo nas minhas costas o cobertorzinho
Presente da vovó Aurora
Na madruga para amanhecer hoje
6 de julho de 2019
Estou com frio mas evitando a cozinha
É que tem uma tia minha lá
Ela é uma das chaves que desperta em mim
Boas emoções da infância
Naquele caminhão cheio de gente alegre
que vinha dos Campos. Lá estava ela
É a irmã mais velha que mamãe queria ser igual, lá pelos quinze
A tia está imóvel, na penumbra da cozinha, meio encurvadinha
um casaco vinho, abraçando-se. O fogão está apagado
Eu deveria falar com ela, mas estou sem jeito
O engraçado é que hoje a minha cozinha está parecida com a dela
Geralmente vou para minha cozinha para relaxar e dormir logo
Se falo com a tia agora, então aí que não durmo mesmo
O que será que minha tia quer comigo?
Decerto falar que no meu mundo ela jamais morre
Que viverá para sempre nas minhas lembranças
Não ficará sempre na cozinha, mas não estará longe
Continuará de não falar muito
Mas que diferença isso faz
se o principal é mesmo indizível
Então sua benção, tia
Vou ali buscar lenha e avivar esse fogo
Vou fazer um café para nós
Até mesmo porque já vejo mais gente chegando
Vai ser uma noite daquelas
Que o tempo acalme o que puder
Fica o perfume, para sempre

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