segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

TEMPO DE FLORADA

Lá em Botelhos
Em 1951
Onde havia
Uma antiga casa
De várias portas
E uma barbearia
Pelo tempo em que
Os pessegueiros
Dão flores
Concluiu-se a elevação
De uma casa nova
Do senhor Tonico
Avenida principal
Número 131

Ele nem conheci
(Dizem que era
A serviço da alegria)
Conheci a esposa
Dona Leontina
E os nove filhos
Cinco meninos
O resto meninas

(Criados abaixo
De disciplina rígida
Que fazia jorrar
Respeito e amor)

(Quando saíam em visita
A mãe já dizia aos meninos
Comam só um do oferecido
Senão levam beliscos
E já adiantava uns nisso
Ninguém reclamava)

Tia Alice, nunca vi  
Alguém mais franco
Impulsos redemunhados
De quem planta flores
Nos jardins
De quantos pode
(Contudo é melhor 
Que não lhe atrapalhem
O cochilo da tarde)

O Tio Zé não consegue
Contar a piada direito
Ri ri ri... Rio também
Porque já conheço o fim
Das outras vezes
Que contou a mesma
Piada

(A esposa dele
A Tia Maria Alice
Faz caminhada na roça
Com porrete às mãos
Para o caso de
Aparecer onça)

Tia Antonieta deve
Ter sido Coronela
Em outra vida
Conduz tudo
Com força de Leoa
Mas jeito de algodão
Inventa agrada
Torna sua casa
Hora de recreio

É vizinha
Da tia Tida
Costureira
De mão cheia
Que dizem tem
Ímpetos afogueados
Mas onde se ouviu
Dizer que em
Rosa não há
Ferrões

O Tio Totó
(De espírito cigano)
Já vendeu livros,
Camisas, sorvetes,
Arroz-doce
E sonhos

E o Tio Ademar
É filho do vento
Lá vem
Já foi

O Tio Rovilson
Quando criança
Queria festa
De aniversário
Nem que fosse
Com biscoitão
E suspiro
Não houve a festa
Então fica
Caçando festas
E bailes a
Vida toda

(A Esposa Ana Maria
Até se emociona
Tão acolhida
Se sente nessa
Família da qual
Também eu
Sou agregado)

A Eunice tem 
Cabeça cheia
De flores borboletas
Barcos e navios
Desconhece muros
Não leva flores
Nos cabelos
Porque não gosta
De flores murchas
(Jura que depois
Do natal diminuem
Os mosquitos)

Conversar com o
Tio Andrelino
É jogar pedra
À passarinhada
Cinza que sempre-sempre
Ronda a gente
(Morre de amores
E consideração
Pela Esposa Nilda)

Hoje apenas a
Tia Alice mora
Ao casarão elevado
Ao número 131
Mas com frequência
Todos se ajuntam ali
(Canta o mensageiro dos ventos)
Na gostosa na sensação
De que o tempo não passou
(Como fosse sempre
Tempo da florada
De pessegueiro)

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