Eu, Dioni, peguei o ônibus nas
derradeiras luzes do dia. Linha Paraisópolis a Itajubá. Depois, as 22, peguei
Itajubá a capital. Acabei dormindo. Acordei já amanhecia. Viadutos, prédios...
Uma confusão aos meus olhos. Coisas sim já vistas em preto e branco pela tv;
mas para um jovem montanhês como eu aquele colorido descolorido era realidade
de apertar a garganta. Um labirinto de espantar. Edifícios tão altos. Ruas a
sumir de vista. Pistas com várias veículos lado a lado muito bem cercadas a
concreto. Não via o horizonte. Como poderia ser belo? Faltava-me o ar, e o que
vinha era-me pesado e pegajoso. As janelas pareciam olhos a vigiar. Os arames
frios dos fios nos postes lembravam chuchuzeiro no jirau. Das armações de
cimento parecia sair vozes em couro a dizer matem esse menino. O som lembrava
um exame em nuvem de abelhas passando sobre a gente. As pessoas pareciam não se
importar. Não ouvir. Abri a janela do ônibus porque o sujeito ao meu lado não
parava de fumar. O sol recém-nascido jogou luzes sobre mim. Pareceu mais quente
do que eu estava acostumado. vi o Arrudas serpenteando. Supus que quem sabe não
fosse um rio, mas sim apenas um monstro feiticeiro que se fazia de acabado, mas
ia encantando as pessoas e sendo o mentor daquele caos. Na rodoviária segui as
coordenadas do sr. João. Peguei o Setelagoano e o meu mundo já não seria mais o
mesmo. Alguma coisa em mim se acabava, um fim de ciclo. Foi questão de detalhe
logo depois um chefe meu perguntar-me o nome. Falei Dioni. Ele disse Dioni? Eu
balancei a cabeça afirmativamente. Apenas Dioni? Ele disse. Falei Dioni Kirk.
Dioni é muito feminino. Vou te apresentar como Kirk, ele disse. Concordei. Aí
pronto. Nasceu o Kirk. Ninguém me conheceria como Dioni mais. Na verdade o
Dioni não morreu. Segue lá. Apenas se levantou um segundo andar de nome Kirk.
Nenhum comentário:
Postar um comentário