quinta-feira, 13 de novembro de 2014

ANTIGAMENTE



Os ventos assobiados
Corriam insensatos.
Decerto fugindo
Dos céus roncados
De nuvens de chumbo
Ameaçando tudo.

Longe de casa
Eu surpreendido.
Mamãe como saberia
De meu paradeiro.
E nada mais certo
Da falta de tempo
Para seguro regresso

A não ser que me arriscasse.
Mas daí encharcado
Seria surra dobrada.
E o achar foi certeiro
Pois não tardou um nada.
E desabou aguaceiro.

Roupas arrancadas
De arames varais.
Corriam os meninos
A busca de abrigo.
A bola esquecida
Lá no campinho.

Ruídos metálicos
Latas reviradas.
Doido um pardal
Sobre um jirau.
Também me abrigo.
A bola esquecida
Levo comigo.

Chove por hora;
Intenso aguaçal.
Mas tudo passou,
E logo vazou sol.
Derramando um quente
Que alegrou toda gente

Corri como pude.
Supus mamãe doida
E disso sobrando
Ela em loucura
Minha orelha esticada
E ela falando e falando.

Gotas amolecidas
Fazendo batucadas
Escorriam às calhas.
Uns gatos esfomeados
Fuçavam as latas
Recém-reviradas

Entro em casa
De suor melado
A porta abro a seco
Eu ofegante.
A mamãe vacilante
Mãos juntas ao peito

Um salto de susto
“Olha o seu jeito.
Quer-me um infarto,
Moleque dos diabos.
Pensei que estivesse
Enfiado no quarto”.

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