Os ventos assobiados
Corriam insensatos.
Decerto fugindo
Dos céus roncados
De nuvens de chumbo
Ameaçando tudo.
Longe de casa
Eu surpreendido.
Mamãe como saberia
De meu paradeiro.
E nada mais certo
Da falta de tempo
Para seguro regresso
A não ser que me arriscasse.
Mas daí encharcado
Seria surra dobrada.
E o achar foi certeiro
Pois não tardou um nada.
E desabou aguaceiro.
Roupas arrancadas
De arames varais.
Corriam os meninos
A busca de abrigo.
A bola esquecida
Lá no campinho.
Ruídos metálicos
Latas reviradas.
Doido um pardal
Sobre um jirau.
Também me abrigo.
A bola esquecida
Levo comigo.
Chove por hora;
Intenso aguaçal.
Mas tudo passou,
E logo vazou sol.
Derramando um quente
Que alegrou toda gente
Corri como pude.
Supus mamãe doida
E disso sobrando
Ela em loucura
Minha orelha esticada
E ela falando e falando.
Gotas amolecidas
Fazendo batucadas
Escorriam às calhas.
Uns gatos esfomeados
Fuçavam as latas
Recém-reviradas
Entro em casa
De suor melado
A porta abro a seco
Eu ofegante.
A mamãe vacilante
Mãos juntas ao peito
Um salto de susto
“Olha o seu jeito.
Quer-me um infarto,
Moleque dos diabos.
Pensei que estivesse
Enfiado no quarto”.
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