domingo, 12 de abril de 2020

Passagem

Era noite. Tudo parecia estranho.
As árvores não se mexiam minimamente e
o pio dos pássaros noturnos parecia triste.
Longe, cães ladravam como um
monstro rondasse a região.

Existia certeza, sim; mas também
medo. Não dúvida. Medo...
Um aperto no peito. Acredite.
Ele era humano. Sabia o que viria.
Quando sabemos o que vem,
e que o que vem é dor, sofremos
desde já.

A noite passaria em Sua vida...
No Egito o sangue do cordeiro sobre
a porta livrou o povo do anjo da morte.
Ele teria que enfrentar a noite.
Ele teria que enfrentar a "praga".
Ele seria o sangue sobre a porta.

Durante o derramamento de sangue, o amor
tomou conta Dele. Um amor que era tanto
que Ele sofria menos do que na véspera,
no instante de ansiedade sobre
como seria aquele momento.

Ele amava tanto as pessoas... Até seus
inimigos. Se eram inimigos, era por
não entenderem direito, na pequeneza humana.
Um dia entenderiam, confortava-se.

Nos instantes finais, Ele não tinha dúvida.
Tudo seguia conforme tinha que ser.
"Perdoa-vos, Senhor", Ele disse.
Com expressão suave de sorriso no rosto,
Ele apagou-se, num perder o fôlego.

No primeiro dia da semana, a notícia:
"roubaram o corpo", "roubaram o corpo".
Era ainda madrugada quando gritavam
aqueles que gostam de distribuir
notícias ruins, num falso desespero,
numa falsa preocupação

De fato, Ele não estava mais lá.
Depois do apagar-se, Ele abriu os olhos
num outro mundo. Um mundo de luz.
O êxtase que experimentou nem tem
como dizer. E já não era mais noite,
nem mesmo madrugada;
mas sim UM NOVO DIA.

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