domingo, 19 de janeiro de 2020

Pânico no Jardim


As flores estão inquietas. Saúvas no jardim! Na primeira noite e a devassa já foi grande. Margaridas tagarelam com as rosas. As rosas estão desesperadas. Foram as mais atacadas. Cadê o jardineiro! Cadê o janeiro! É o que se ouve. Saúvas más, más, muito más. Gritam as comigo-ninguém-pode. É receio geral que o jardineiro desista do jardim, que já vinha com ervas daninhas aqui e ali. As formigas estão felizes. Entendem que enfim encontraram um bom lugar. Abundante em plantas do agrado delas, e abandonado. Amam as flores. Amam as pétalas e até as folhas e caules. Com elas cultivam suas roças de fungos, que lhes servem de alimentos. Seus filhos poderão crescer saudáveis. Mau é o tatu, pensam... O jardineiro irrita-se com as formigas. Dão-lhe muito trabalho. Aprecia que as pessoas vejam seu jardim florido, cuidado. Não quer se passar por descuidado, preguiçoso. Mas as formigas lhe põem redemunhado. Como controlá-las. O veneno pode também matar as flores. No fundo, no fundo sabe que a terra também é das formigas. Mas, poxa, elas fazem passá-lo por homem que não cuida das suas coisas. As flores sou eu; as formigas e até o tatu também sou eu. O jardineiro, igualmente, sou eu. Que eu faça meu trabalho com sabedoria.


Nenhum comentário:

Postar um comentário