Deus que me perdoe as más primeiras impressões, mas ele tinha jeito daqueles que gostam de contar vantagem. Até duvidei que ali fosse mesmo a poltrona dele. Mas, vamos lá. A menina, muito educada, lia o livro Cidades de Papel. A frente dos dois havia um gordão. Daqueles que ocupam uma poltrona e meia. Não estou querendo esculachar não, mas era a verdade.
Logo chegou outra moça. Bonita também e toda de
branco. Assentou-se com o gordo. Quando ainda se ajeitava olhou para trás e
reconheceu a amiga que não via a tempo, a menina de vestido floral. Começaram a
conversar. Logo a menina de branco pediu o rapaz do iphone: você não troca de
lugar comigo, para eu ir com minha amiga? Ele, abrindo as aletas do nariz como
cheirasse imundície, disse: não, não. Não posso. Temos que ficar na poltrona
conforme consta na passagem. Em caso de acidente, pensa bem. As passagens
interestaduais têm número e nome da gente. Eu pensei: e ele é besta de deixar a
gatinha do vestido floral para ficar com o gordão?
Nisso, o gordão, muito gente boa, falou com a
gatinha de vestido floral mal se virando, porque não conseguia. Pode deixar. Eu
troco com você. O rapaz do iphone quis morrer. O gordão foi para o lado dele e
ainda pegou janela. Eu até cobri cabeça com a blusa para rir. Não deu cinco
minutos e o gordão já dormia. Um braço praticamente em cima do vizinho. O rapaz
não suportou. Pegou sua mochilinha e sumiu para os fundos do ônibus.
Esqueceu-se rapidinho daquilo de que não podia mudar de poltrona nas viagens
interestaduais.
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