sexta-feira, 29 de março de 2019

secura

certa vez fui na casa de Titininha
portava um recado de mamãe
já era noitinha
a pastagem seca o ar seco
de cara achei estranho
que o Bidu não viesse
um pinhé piou longe
abri a porteira que rangeu apertada
subi pela rampa lateral de pedra
cheguei pela porta da cozinha
como sempre fazia
cheguei  assoviando baixinho
dei de cara com a porta fechada
que novidade era aquela
tal porta raramente se fechava
na casa de tanta atividade
havia um mundo ali
bati na porta bati palmas gritei
nada nada ninguém
apenas o vento u vu u vu u vu u uvu
era uma rara ocasião em que não estavam
nem  os tios e nenhum dos 8 primos
eu parei suspirei procurei sentir aquilo
correu-me algo esquisito apertado arrepio
uma vontade de abraçar o tio Valdomiro
olhei para o lado dos Teófilos
para não ver fechada a casa da tia
até a bica tinha borbulha dolorida
já turvava e a noite se enrolava
na casa como cobra que ataca imobiliza
corri para longe que secura que secura
aquela visão foi antecipação dos atuais dias
do que sinto toda vez que vejo
fechada  a velha porta azul e seca a bica
e nada dos tios e nada dos primos e nada do bidu
apenas o vento e seu u vu u vu u vu u uvu
a me dizer na língua dele que o mundo
que eu conheci não existe mais

2 comentários:

  1. Lindo texto, amigo. me lembro de que quando aos 11 anos também dividiu essa casa conosco. H ribeiro

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