quarta-feira, 15 de junho de 2016

DA VEZ QUE NEVOU LÁ NA ROÇA

O meu pai saiu
Para buscar
A vaca Conquista
Voltou sem encontrá-la
Desistiu logo
Estava encarangado
Mãos e pés congelados
Acendeu o fogo
No fogão a lenha
Com garras de pinheiro
Foi para a taipa
Sentado no banquinho
Que trouxe do seu tempo
De criança
Tomou café quente
Falo da vez que
Nevou lá na roça
Eu tinha uns dois anos
Diz mamãe que eu
Só chorava e chorava
Ela espiou lá fora
Paininhas voavam
E Revoavam
As plantas pareciam
Cafezal em flores
No limoeiro os anuns
Amontoavam-se jururus
Ela me enrolou no cobertor
De lã presente da
Vovó Aurora
Enrolou-me até a cabeça
Como fosse toca ninja
Daquele jeito
Um buraquinho apenas
Para olhos e nariz
Fui para o colo
Do papai
Um calor vivo e brilhante
A lenha estalando
Às vezes saltavam faíscas
Como fossem pirilampos
Minha mãe ficou
Surpresa de como
Fiquei quieto
De vez em quando
Ela olhava no buraquinho
Para ver se estava
Tudo bem comigo
Eu tão quietinho
Apenas piscava
Meus olhinhos pareciam
Duas borboletinhas 
Batendo asas

Nenhum comentário:

Postar um comentário