Eu estava lá, na varanda. Estava à
toa, olhando para a rua. Passaram empurrando um caixão sobre um carrinho. Era um
caixão de defunto. Um pequeno grupo acompanhava o cortejo. Vinham da igreja,
iam ao cemitério. Perguntei para um, "quem morreu?". "É o Tião
da Zinha", respondeu o sujeito, "foi de coração", concluiu. "O Tião do Ziiiinha?" Assustei-me. Esse Tião foi meu colega de colégio, poxa. Poderia ser eu ali no
caixão. Ninguém rezava. Apenas iam. Não havia muita gente, mas atrapalhavam o
trânsito. Poucos pareciam realmente tristes. Lá das funduras de mim me
deu um jeito muito ruim mesmo. "Poderia ser eu ali!", repetia de mim
para mim. "Credo!" Como teria sido a vida do pobre Tião da
Zinha? Não o vi mais desde o colegial. Deve ter sido igual a minha, igual a de
todo mundo, só amolação. Os motoristas atrapalhados pelo cortejo começaram a se
impacientar, pela lentidão daquele povo. Bem que poderiam usar meia rua e
liberar o trânsito. A maioria dos que acompanhavam vinham parece que
indiferente ao Tião da Zinha, coitado. Vinham cochichando lá entre eles. Tentei
ouvir o que diziam os que passavam perto de mim. Dois parece que falavam da
gravidez solteira da filha prefeito. Outros falavam de uma vizinha gostosa.
Umas mulheres, do preço tomate. Alguns motoristas entraram a buzinar. Os poucos
realmente tristes, afundados em tristeza, nem ouviam as buzinas. Os que vinham
indiferentes, seguiram indiferentes também ao buzinaço, apenas concentrado
neles mesmos e nas banalidades que tratavam. De repente, fiquei com inveja do
Tião da Zinha.
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