quinta-feira, 10 de setembro de 2009

ganhar e perder



Houve uma época, isso lá pelos meus quatorze ou quinze anos, que uma das minhas alegrias era jogar damas com o meu tio Valdomiro. Ele levava o jogo muito a sério. Por aquele tempo, ali em Consolação, a habilidade de um homem no jogo de damas garantia-lhe certa reputação.

Eu raramente ganhava, contudo gostava muito daquilo. Mas por quê?

Gostava porque na verdade não é do jogo que eu gostava, mas sim do meu tio. Eu gostava da conversa dele. Das histórias dele. Coisas que ele ia falando durante o jogo.

Hoje, pensando bem, acho até que eu facilitava para ele, para que ganhasse quase sempre. Acho que se eu tornasse um adversário muito difícil, possivelmente ele teria que pensar mais e aí não conversaria comigo da forma que conversava naqueles momentos.

Naquele tempo o meu tio estava muito doente e deprimido. Ele sempre foi alguém muito ativo, a doença, porém, obrigava-o a ficar quieto. Ganhar as várias partidas fazia-o melhorar a auto-estima e aí ele ia alegrando-se, alegrando-se, e logo “soltava” a língua.

Talvez no fundo, no fundo, intuitivamente ele soubesse disso tudo, pois por ganhar tanto de mim era para ele não me respeitar muito. Era para ele nem querer jogar comigo, por ser eu um oponente tão fraco. Contudo, ele respeitava. Respeitava como fosse eu não apenas um moleque, mas sim um adulto, e honrado.

Do jeito que eu fazia, e lógico que fazia de forma inconsciente, mesmo “perdendo” eu “ganhava”.

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