quarta-feira, 26 de abril de 2017

Paralelepipedos

Eram claros
Aqueles dias
De eu menino
Pelas ruas de pedras
De Consolação

Nas pedras
Eu via desenhos
Lia mensagens
Do além

Eu era o raio
Não o trovão

(Era bom ver
Que as pedras
Não precisavam
Ser iguais)

Eu podia até
Fechar os olhos
Que não me perdia

(E meu gato
Sempre sabia
Voltar para casa)

Tinha uma pedrinha
Mais escura
E menorzinha
Que eu gostava
De pisar e repisar
Só porque meu pai disse
Que em menino
Também assim fazia

Aquecia-me saber
Que pisava bem
Onde pisaram meus
Ancestrais
Numa parceria
Atemporal

Juntos políamos
As pedras
De onde dos vãos
Cresciam os trevos
De quatro folhas

Tinha a praça,
A capela, o sino
Mas eram os 
Paralelepipedos
Que formavam o tapete
Da minha liberdade

2 comentários:

  1. Belo texto, delicado, poético, mas sobretudo oportuno. Excelente Kirk!
    Que inveja (boa) desta capacidade de usar tão bem as palavras. Parabéns!

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  2. Obrigado pelas palavras, amigo. (Sabe que recebi um, digamos, conselho: que devo trabalhar mais e escrever menos. Risos).

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