sábado, 9 de abril de 2016

Ché


Eu estava no quintal da casa de minha mãe em Consolação, plantando uma laranjeira e o meu filho mais novo veio: “Pai, o que que é ché.” Surpreso eu disse: “De onde tirou isso.” Ele observou “não, é que aqui em Consolação as pessoas falam muito isso”. “Filho, Ché é ché, ué”. Eu disse sorrindo, daquele jeito ganhando tempo. Pensei um pouco. “Acho que é uma zombaria; mas pensando bem, não sei bem.”

Então dei por mim que ali falam muito esse tal “ché” mesmo. Não me recordo se nas cidades vizinhas falam isso também. “Ché, ele nem veio ontem.” “Ché, choveu nada.” “Ché, pagou uma pinoia”. “Ché, de jeito nenhum.”

Depois fui com meu filho olhar no dicionário, na internet.  Pelo Dicionario Formal. ché
(espanhol platense che) interjeição 1. [Brasil, Informal] Expressão usada para indicar surpresa, dúvida ou zombaria. 2. [Brasil, Informal] Expressão usada para chamar alguém ou chamar a atenção. Pelo Dicionario INFormal. Ché. De jeito nenhum; impossível. (expressão muito utilizada no Vale do Ribeira, localizado em SP e PR).

“Vale do Ribeira?” Meu filho disse com espanto. Fomos nós consultar de novo o Google. Pela Wikipédia o Vale do Ribeira é uma região localizada no sul do estado de São Paulo e no leste do estado do Paraná, no Brasil. Recebe esse nome em função da bacia hidrográfica do Rio Ribeira de Iguape.

Pareceu não ter nada a ver. Olhamos no Google Maps. Do Sul de Minas ali onde estávamos até a divisa entre os Estados de São Paulo ao Paraná dá 300 km em linha reta. Ou seja, parece que ali Consolação esteve sujeito a mesma influência colonizadora dos que trouxeram o ché de Portugal.

Postei no facebook no grupo “Consolação em Fotos”. A Claudia Nogueira disse que em Paraisópolis a família dela fala muito “che". A Cíntia Campos disse que na Estiva também muito o “ché”.

A noite até me animei e fiz um poeminha.


Peixe-frito. Peixe-frito.
Peixe-frito. Peixe-frito.

Lá vem ele de novo
Esse passarinho agourento
Nos anunciando coisa
Ruim pra qualquer momento

Mãe, vou pescar
Alguns lambarizinhos.
Esqueça o passarinho.
Aí para o almoço teremos

Peixe-frito. Peixe-frito.
Peixe-frito. Peixe-frito.

(A beira do ribeirão)

Ô moleque, sabe o
Senhor Pê.
Foi pisoteado por bois.
Ché, está frito, ele.

Foi agorinha.
Está mesmo muito mal.
Foi quase morto
Para o hospital.

(Pensei então)

Pê, ché; frito.
Consultei a gravação
Na minha mente.
Lá a ave repetia incessante.

Peixe-frito. Peixe-frito.
Peixe-frito. Peixe-frito.

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