quarta-feira, 26 de março de 2025

FASTÍGIO

o tempo
tenta compreender 
o novo

pensamento

o morto
busca 
o vivo

imagem
de outra
imagem

miragem

distância
entre duas
pontas

abismo

o menor
caminho

sorriso

o deserto
resiste

re-sente

no pulso
vivo

paraíso

sexta-feira, 7 de março de 2025

Ausências

A tardinha se deita em luz mole, 
um amarelo cansado nos morros, 
os ventos descascam silêncios, 
e uma mulher esconde o olhar. 
 
Lá longe, os pássaros pretos 
contam segredos em asas roucas, 
bordam o céu com suas dúvidas 
e somem sem deixar pegadas. 
 
Na varanda a mulher calada, 
suas mãos seguram ausências, 
o peito com jeito de nuvem 
carrega um peso de nada. 
 
A tristeza pinga miúda, 
como um resto de sol nos vidros, 
e a tarde vai se apagando sozinha, 
sem ninguém pra segurar. 

quarta-feira, 5 de março de 2025

A INFÂNCIA É DOCE

1parte
vi papai no cavalo estrelo
vinha na curva lá embaixo
gritei mãe vem cá vê-lo
olha papai já vem chegando
 
então logo se banhe
mamãe gritou já escurecia
sem banho eu não teria
das balas que papai trazia
 
lá fui corri para dentro
pra traz bois de sabugo
saltei lufadas de vento
assustei o cãozinho peludo
 
refrão
 
a infância é doce
doce como bala
a criança é pura
ela não compara
 
É página limpa
Só nos cabe amá-la
a infância é doce
Doce como bala 2x
Como bala
 
2parte
 
papai chegou com história
lá da venda do Vardinho
que pras bandas do Olaria
onça rasgou bezerrinho
 
medo frio me arranhou costelas
lá fora noitinha já chegada
Mamãe correu cerrar janelas
girou firme as taramelas
 
com papai me vi seguro
na lamparina fogo vermelho
pena do cãozinho lá no escuro
sem balas sem pais pra protegê-lo
 
refrão...